Diálogos de Fachada

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Diálogos

Como se as nossas histórias fossem bem mais interessantes que as dos outros. É assim que temos agido ultimamente. As conversas são cada vez menos diálogos e cada vez mais monólogos. As pessoas falam cada vez mais e ouvem cada vez menos. 

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Não é a necessidade de ser ouvida, mas a urgência em falar. Falas que não acrescentam, falas sem interesse na resposta do outro. Conversas vazias, discursos fúteis. Enquanto o outro está falando, estamos pensando no que falaremos na sequência, por vezes, antes mesmo do outro terminar. 

São monólogos desconexos e atropelados. Como não ouvimos, o nosso discurso tende a não dar continuidade ao do outro. E no fim, não foi uma conversa, mas um festival de informações soltas, que não nos levam à conclusão alguma. 

Quando foi que perdemos o interesse pelas boas histórias? Quando foi que perdemos o interesse pelo outro? 

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Este é um diálogo adaptado de um fato real, em um ponto de ônibus numa noite chuvosa de quarta-feira.

Chovia muito e todos estavam espremidos debaixo da cobertura da parada de ônibus. Um rapaz aparentando uns 40 e poucos esbarra em uma moça na faixa dos 25 e se desculpa. 

ELE: Nossa, esse 19 tá de rosca, já tô aqui há meia hora e nada d’ele chegar.

 

ELA: Nem me fale. Eu tô super cansada, não vejo a hora de chegar em casa.

 

ELE: E com essa chuvinha, eu queria mesmo já estar em casa. Você trabalha por aqui?

 

ELA: Sim, naquele prédio. Faz três anos que não tiro férias. Preciso de férias.

 

ELE: Aí é ruim, hein. Bom mesmo é viajar. Porto Seguro, Natal, aquelas dunas… Eu conheço todo o Nordeste, é lindo.

 

ELA: Eu trabalhava na Empresa X e de final de semana era garçonete em um restaurante, então quando tirei férias da Empresa X, continuei no restaurante, aí não tive férias.

ELE: Aí é ruim. Férias é pra viajar. Eu conheço o Brasil quase todo. O Rio Grande do Sul, o Norte…

 

ELA: Nem era pra eu estar aqui, era pra eu estar no Sul.

 

ELE: O Sul é legal, é lindo.

 

ELA: Mas eu não passei na Federal, então tive que continuar aqui.

 

ELE: A Argentina também é linda, Alemanha, Paris…

 

ELA: A minha mãe fala que a Argentina é linda.

 

ELE: A Itália, então, é o país mais bonito. Eu já viajei bastante.

 

ELA: Nossa, nada do 19 chegar. E eu super cansada, sem férias há 3 anos.

 

ELE: (deu o play em algum vídeo do youtube no celular e gargalhou) Esses caras são muito engraçados.

 

ELA: Eu gosto de assistir vídeos do youtube na TV de casa, que tem aquele negócio de smart tv, sabe?

 

ELE: Nos Estados Unidos já é assim faz tempo. Porra, esse 19 tá osso, hein. (ascendeu um cigarro e se afastou pra fumar). Vou ali fumar enquanto ele não chega.

 

ELA: Uhum.

 

Em poucos minutos o ônibus chegou e ELA subiu, sem olhar pra trás. Lá se foi o 19…

 

ELE (para uma senhora no ponto): Esse que saiu agora não era o 19, né?

 

A SENHORA: Sim, era…

 

ELE: Porra meu, a mina nem me avisou. Já era pra eu estar em casa a essa hora.

 

A SENHORA: E eu que vou trabalhar no fim de semana, sem folga.

A mina no ônibus pensando: Será que aquele homem ia pegar o 19 também?

‘Saber ouvir quase que é responder’, dizia Pierre Marivaux. Às vezes perdemos grandes oportunidades porque não sabemos calar, não sabemos ouvir.

 
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Jornalista e bacharel em turismo, com especialização em marketing estratégico e gestão de turismo e hospitalidade, com dezoito anos de experiência na Baixada Santista É editor-chefe da Revista Nove e do Guia Comer & Beber e colunista de Turismo e Gastronomia da Revista Mais Santos. Aquariano e inquieto, se aventura nas crônicas e poemas e está às vésperas dos 40.

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