Rafael Motta: Efeito da CPI: o ‘paciente’ pode ter alta. Ou não

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 é uma perda de tempo na busca pelo óbvio: a inegável responsabilidade do Governo Federal pelo fato de o Brasil ter a maior proporção de mortes pela doença, por milhão de habitantes, entre os países mais populosos do mundo. A fonte dessa informação está depois do final deste texto.

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Quando se fala “governo”, claro, o responsável por ele é o presidente Jair Bolsonaro. Não só pelos óbitos, mas por todas as consequências dos maus exemplos dele e que vêm sendo copiados por boa parte da população: fazer aglomerações, não usar máscara, sugerir remédios inúteis contra a doença e, em vez de exigir vacinas e auxílio aos necessitados, convocar ao trabalho sem que haja emprego.

Mas a CPI, de forma específica, é um desfile de vaidades e maquinações de baixa política que tem como alvo principal as eleições do ano que vem. Claro que há políticos sérios e, olhando bem, dá para perceber quais são: por seu modo de agir, pelas informações que levantam e pela maneira como fazem perguntas aos que estão indo lá prestar depoimentos.

Porém, sobram elementos no Congresso que, a exemplo do presidente da República, estão menos preocupados com a contenção da pandemia do que com as eleições do ano que vem. São aqueles que buscam palanque e que preparam declarações bombásticas na luta para sair no ‘Jornal Nacional’ ou para separar trechos delas e compartilhar em suas redes sociais.

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Até mesmo os ex-ministros da Saúde que falaram à CPI são pessoas preocupadas com os próprios interesses. Luiz Henrique Mandetta já foi deputado federal e há quem ache que ele poderá disputar a Presidência em 2022. Nelson Teich, médico oncologista, tem, pelo menos, um nome a zelar. Marcelo Queiroga, atual ministro, não quer perder o emprego. Todos evitaram se prejudicar.

O menos qualificado dos que ocuparam o ministério ainda não esteve na comissão: Eduardo Pazuello, general do Exército. Um de seus primeiros atos, quatro dias após tomar posse, foi autorizar o uso de cloroquina para tratamento de covid em fase inicial, mesmo reconhecendo que não havia prova de sua eficácia. Bolsonaro falava na substância dia e noite (ainda fala; incrível).

“É simples assim: um manda, e o outro obedece”, disse Pazuello em outubro, internado para se tratar de covid, ao lado do presidente, que lhe fizera uma visita. Um dia antes, Bolsonaro havia cancelado um protocolo de intenções que o então ministro tinha firmado com governadores para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. A vacinação começaria só em meados de janeiro.

O resumo da gestão do obediente ministro é este: quando assumiu o cargo, em 15 de maio do ano passado, o coronavírus tinha matado 14.817 brasileiros e infectado 218.223. Ao sair, em 15 de março de 2021, eram 279.602 mortes (aumento de 19 vezes) e 11.525.477 casos da doença acumulados (aumento de 53 vezes). Ainda se sentem as consequências agora, nesta grande onda.

O general já deveria ter comparecido à CPI, mas não foi, alegando que teve contato com militares com suspeita de covid-19 — dias depois de ter sido flagrado num shopping do Amazonas sem máscara; lembre-se, o ex-ministro da Saúde da maior crise sanitária da história do Brasil. Seu depoimento foi remarcado para o dia 19 deste mês. Dirá, apenas, que obedeceu ao presidente?

Ainda que fosse assim, é improvável que a comissão, sozinha, enfraqueça Bolsonaro. Ele está acuado e incomodado com a situação: basta ver como reage e as bravatas que têm feito na tentativa de desviar o foco na CPI. Mas ainda possui a ‘caneta’ e a ‘chave do cofre’. Há muitos cargos excelentes para pôr e tirar pessoas e bastante dinheiro em caixa para compra de apoio.

Resumindo: se fosse para cassar o mandato do presidente, bastaria reunir as evidências contra ele e levar adiante um processo de impeachment, que poderia ou não resultar na deposição dele. A CPI é um caminho intermediário, igual a uma internação em leito de enfermaria (dali, o paciente pode ir para casa ou para a UTI). Portanto, há remédio para que Bolsonaro tenha alta deste obstáculo e se saia bem na tentativa de ser reeleito. Ou não.

Observação: o dado sobre a proporção de mortes por milhão de pessoas por covid-19 é de sexta-feira (7/5). Foi retirado desse site (https://ourworldindata.org/explorers/coronavirus-data-explorer) organizado pela universidade de Oxford, na Inglaterra, e reproduzido pelo portal G1. No Brasil, são 1.950 óbitos a cada 1 milhão de pessoas. Os Estados Unidos têm 1.750. A Índia, em colapso na saúde, está em sexto lugar, com 167. A China, onde surgiram os primeiros casos, em 14º, com 3.

**Este texto não, necessariamente, reflete a opinião do 40EMAIS.

Rafael Motta Rafael Motta, nascido em Santos e jornalista formado em 2000, trabalha desde 1993, aos 14 anos, em veículos de comunicação da Baixada Santista e de alcance nacional (portanto, já está nos 40 e mais). É editor assistente de Cidades do jornal A Tribuna e autor dos livros ‘Tarquínio – Começar de Novo’ (Editora Leopoldianum, 2012, biografia) e ‘Catorze – A Via-Sacra de Erasmo Cupertino’ (Edição do Autor, 2020, ficção). Acredita que o exercício da política pode melhorar a democracia, pois está ao alcance de todos: não é preciso ter mandato para agir politicamente. E pensa que os políticos pagos com o nosso dinheiro devem satisfações à sociedade. Quando não nos dão explicações, devemos buscá-las. Um caminho é analisar o que fazem, para entender seus objetivos.

 

 
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