Hepatite misteriosa


hepatireCom a pandemia da Covid-19 controlada na maioria dos países, a expectativa era de um respiro para doenças novas ou de causas desconhecidas. Mas não é a realidade…

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No dia 5 de abril deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi notificada pela primeira vez sobre 10 casos de hepatite de causa desconhecida, em crianças menores de 10 anos, na Escócia. Em 1 mês, já eram mais de 340, com notificações em mais de 20 países, o que acendeu o alerta da comunidade científica. 

Os principais sintomas relatados nestes casos foram: icterícia, diarreia, vômitos e dores abdominais. Alguns casos evoluíram para insuficiência hepática e necessitaram de transplante.

Os vírus já conhecidos por causar os diferentes tipos de hepatites não foram encontrados em nenhum dos casos até o momento, de acordo com a OMS e o Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças (ECDC).

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Chamada de hepatite misteriosa (porque ataca o fígado e a causa ainda é desconhecida), a doença tem mostrado uma agressividade bem maior do que as hepatites já conhecidas.

O fígado é a maior glândula do organismo humano e essencial para o funcionamento do nosso corpo. Ele tem várias funções como: eliminar substâncias tóxicas; armazenar e liberar glicose no organismo; atua na digestão da gordura; na transformação de amônia em ureia; na produção de substâncias como proteínas, fatores de coagulação, triglicerídeos, colesterol e bile; no metabolismo de medicamentos; na destruição de micro-organismos e de hemácias envelhecidas ou anormais. Ou seja, já deu para entender a importância desse órgão para o bom funcionamento do nosso organismo, né?!

Mas, quais são as características de uma hepatite e os agentes causadores?

A hepatite é uma inflamação do fígado que compromete suas funções. Se não tratada, pode evoluir para quadros graves como cirrose ou insuficiência hepática, levando à necessidade de um transplante de fígado. A maioria é assintomática, ou seja, não apresenta sintomas.

Existem diferentes tipos de hepatite, dependendo do agente causador. As principais hepatites podem ser virais, que são as A, B, C, D, E, F e G, medicamentosa, alcoólica e autoimune.

Os sintomas variam de acordo com cada tipo de hepatite, mas, em geral, incluem: pele ou olhos amarelados, fraqueza, redução do apetite, dor abdominal, enjoos, vômitos, urina escura, fezes claras, febre baixa, mal-estar, dor nas articulações.

As formas de contágio e os tratamentos também diferem de acordo com o tipo de hepatite. Os tipos A e E se dão através da água ou alimentos contaminados, sendo que o E pode ocorrer pelo contato com fezes ou urina de pessoas contaminadas. Os tipos B, C, D e G ocorrem por meio do contato de secreções ou sangue contaminados. A medicamentosa se dá pelo uso excessivo ou inadequado de medicamentos, assim como a alcoólica é consequência do uso abusivo de bebida alcoólica. Na hepatite autoimune, o organismo do paciente produz anticorpos contra as próprias células do fígado, destruindo-as.

A maioria das hepatites possui tratamento, principalmente se detectadas precocemente. Por isso, é importante que o diagnóstico seja feito ainda na fase inicial da doença. E já existem vacinas para algumas delas.

As hepatites virais são as mais comuns das hepatites e responsáveis por causar, anualmente, cerca de 1,7 milhão de mortes no mundo.

É uma doença já bem conhecida e com protocolos definidos, o que acendeu os holofotes para o atual surto de uma meningite grave, identificada em uma faixa etária incomum e por uma causa ainda desconhecida.

Identificadas em mais de 30 países, já foram notificados mais de 600 casos, com mais de 25 transplantes de fígado e 14 mortes. As crianças afetadas têm de 1 mês de idade a 16 anos.

Apesar de ainda não confirmada, a suspeita do agente causador dessa hepatite recai, atualmente, sobre um tipo de adenovírus humano. Isso porque foi detectado o vírus no sangue ou na urina de 77% das crianças com a hepatite misteriosa. Porém, não foi encontrado no tecido do fígado lesionado.

O adenovírus é um grupo de vírus conhecido por causar doenças respiratórias, como resfriado, bronquite e pneumonia, podendo causar também infecções no trato intestinal.  Há relatos raros de hepatite grave causada por este vírus em crianças imunocomprometidas, mas não havia ainda associação à hepatite aguda grave em crianças e adolescentes saudáveis.

Sua transmissão ocorre, normalmente, por contato pessoal, gotículas de saliva e superfícies contaminadas.

Uma hipótese para este novo quadro causado pelo adenovírus é um possível acúmulo de mutações no vírus que permitiu o desenvolvimento de novos sintomas. Outra explicação sendo estudada é se o isolamento social por conta da pandemia de Covid-19, reduzindo a exposição das crianças aos adenovírus, tornou essa população mais vulnerável a uma nova variante.

Sobre o agente causador dessas hepatites, existe ainda uma linha de estudo sobre uma possível relação da doença com a infecção por Sars-CoV-2 (o novo coronavírus).

Muitos desses pacientes são crianças pequenas, ainda não vacinadas contra o coronavírus, mas que já tinham sido infectadas por ele. Seria mais um caso de reação tardia e prolongada do organismo. Alguns cientistas acreditam na possibilidade de partes remanescentes do vírus desencadearem uma resposta imune exagerada ao adenovírus que comprometa fortemente o fígado, levando à uma hepatite.

Enquanto não temos as respostas necessárias, é importante estarmos atentos aos sintomas dessa hepatite nas crianças e procurarmos rapidamente atendimento médico caso estejam presentes alguns deles.

Como prevenção, hábitos de higiene que deveriam ser rotineiros: lavar sempre as mãos com água e sabão, uso de álcool em gel, etiquetas de higiene ao tossir ou espirrar, evitar contatos com outras crianças com sintomas gripais.

No Brasil, o Ministério da Saúde instalou, no dia 13 deste mês, uma “Sala de Situação” para monitorar os casos de hepatite misteriosa que estão em investigação no país e levantar dados que possam ajudar na identificação do agente causador. A ideia é que o projeto ajude também na coordenação e direcionamento das ações de forma rápida e assertiva.

Mais uma vez, devemos confiar na Ciência e fazer a nossa parte.

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Falando de Ciencia com Erika Klann

Olá, eu sou a Érika Klann, bióloga Geneticista pela UFRJ, professora, com mestrado em Virologia pela Fiocruz-RJ, apaixonada pelo universo da ciência e pesquisa.

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