Todo ano, é batata: quando chegamos perto de dezembro, é aquela enxurrada de filmes de natal, um atrás do outro, que são basicamente iguais: protagonista, homem ou mulher, que faz alguma coisa, ou vai parar numa situação fora do comum, que se apaixona por alguém, homem ou mulher, e tem que passar o filme todo tentando ficar com essa pessoa. Adicione à fórmula, crianças fofas, idosos engraçados e um vilão meio bobo, e você tem a fórmula perfeita para perder de 90 a 120 minutos da sua vida em um tipo de cinema que não acrescenta nada.
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Mas será que os filmes de Natal sempre foram tão ruins? Não tem como a gente escolher um filme natalino que não seja apenas gente branca de suéter com problemas de natal? Aliás, nesse ano, até a Lindsay Lohan eles ressuscitaram. Falando nisso, o acervo da Netflix é particularmente pavoroso. Mas isso é assunto pra outro dia. Mas voltando à questão, a resposta é sim. Não são novos, mas apresento 04 filmes de Natal para te salvar desses filmes de Natal.
Esqueceram de mim 1 e 2 (1990)
Começamos a lista com um clássico filme de natal, não apenas por que se passa no período, mas por que a Globo nos enfiou esse filme em todos os natais dos anos 1990. Na época, Macaulay Culkin reinava soberano como um ator mirim prodígio, que estava em todos os filmes, época boa. A trama gira em torno de Kevin (Culkin), um menino assolado pela presença da família (aliás, que família gigante) na sua casa, que, após se comportar mal na véspera da viagem da família para a França, écolocado de castigo e obrigado a dormir no sótão de casa. Eis que, durante a madrugada, ocorre uma queda de energia, e todos acordam atrasados para o aeroporto.
Na confusão, a família acaba deixando o garoto para trás, que agora precisa lidar com o fato de estar sozinho em casa. Além disso, quando a residência é invadida por dois assaltantes, cabe a Kevin defender seu lar. O filme é um dos grandes clássicos escritos pelo sempre brilhante John Hughes, nos brindando com situações hilárias, especialmente vendo o sofrimento dos ladrões, vividos por Joe Pesci e Daniel Stern. Engraçado do começo ao fim, o filme ainda traz uma importante lição envolvendo um vizinho idoso de Kevin, trazendo um final tocante e comovente na medida certa. Se quiser embalar e colocar o segundo, a história é praticamente a mesma, só que agora Kevin consegue se perder em Nova York, e se refugia em um prédio que, pasmem, está sendo invadido pelos mesmos bandidos do filme original. Não é tão bom quanto o original, mas diverte bem mais que Um Principe do natal. Eca.
De ilusão também se vive (1947)
Quando reclama na famosa loja Macy ‘s de Nova York que o Papai Noel da loja está bêbado, o simpático idoso Kris Kringle é convidado a tomar o posto. Não obstante, ele passa a recomendar brinquedos que não são vendidos pelo estabelecimento. O que seria um óbvio suicídio comercial, acaba se tornando a representação do espírito de benevolência que deveria estar presente nessa época do ano. Logo, Kringle se torna uma figura importante e de destaque.
Kris vai morar com o jovem advogado Fred Gailey, vizinho de Doris, e conhece a filha dela, Susan. Mas a mania de Kris de dizer que é o Papai Noel verdadeiro o faz ser examinado pelo egoísta psicólogo da Macy ‘s, o senhor Granville Sawyer. Kris se desilude com as pessoas e volta para um sanatório onde já estivera internado, o que leva a que o advogado Gayley mova um processo no Tribunal de Nova Iorque para provar ser Kris o verdadeiro Papai Noel como afirma.
A trama se passar num tribunal é algo muito estranho para um filme de natal, mas que funciona justamente pela ambiguidade e pela mensagem que o filme passa, de benevolência e generosidade, mesmo frente ao consumismo desenfreado que virou a época de natal. Um clássico de mais de 70 anos, ganhador de 3 Oscars, que merece ser visto e revisto.
Caso você não esteja habituado a ver filmes em preto e branco, perca esse preconceito e dê uma chance ao filme. Mas se for muito difícil mesmo, assista a refilmagem de 1994, O Milagre da Rua 34, com o sempre ótimo Richard Attenborough (sim, o velhinho de Jurassic Park). É um filme muito bom, mas o original é ainda melhor.
O Grinch (2000)
Jim Carrey é um gênio. Não há mais o que dizer. Tanto no humor, quanto no drama, Carrey é aquilo que se chama ator completo. É muito eficaz quando quer fazer rir, tanto quanto quando nos quer fazer chorar. Quem não se lembra de suas interpretações em Debi & Lóide, O mentiroso, Ace Ventura, e para mim o melhor filme da carreira dele. O Mundo de Andy, em que ele encarna com perfeição o excêntrico humorista Andy Kaufman, numa performance absurdamente magistral. Enfim, sou fã do cara.
E é nesse despretensioso Como o Grinch arruinou o Natal que Carrey encara o desafio físico mais difícil da sua carreira: encarar o personagem título debaixo de uma pesada maquiagem, com prostéticos e lentes de contato, que levava horas para ficar pronta, em um processo mega desgastante. Mas valeu a pena o sacrifício. Carrey empresta seus trejeitos e movimentações para dar vida ao personagem, de forma impressionante.
Baseado na obra do sempre maravilhoso Dr. Seuss, o filme acompanha o Grinch, um monstro verde, ranzinza e peludo que, todo ano, tem que aturar os habitantes de Quemlândia, que adoram e se dedicam à data com esmero. Decidido a acabar com a festa, resolve invadir as casas dos vizinhos e roubar tudo que tem a ver com o natal.
Esse é um daqueles filmes que são tão bonitinhos, tão completos, que dá pra assistir mais de uma vez no ano. Reúna as crianças e assista nesse natal.
Curiosidade: a versão dublada é narrada pelo sempre ótimo Antônio Fagundes.
Duro de Matar (1988)
Saindo de um filme mais doce, para o MAIOR FILME DE AÇÃO DE TODOS OS TEMPOS. Quem disse que tiros, explosões e ação não combinam com o Natal? Está decretado: Duro de Matar é um filme de Natal e pronto.
Contrastando com os filmes de ação dos anos 1980, onde brilhavam figuras gigantes como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, este filme traz um policial normal, John McClane, que, por estar no lugar errado na hora errada, se envolve numa situação complicada quando terroristas invadem o prédio onde sua esposa trabalha, bem na festa de natal. E é exatamente pela figura de sujeito normal que conseguimos nos relacionar com o protagonista, e podemos acompanhar, de forma crível, como ele vai, sangra, se machuca, aliás, se arrebenta todo, para combater os inimigos, mais armados e em maior número.
As atuações são excelentes, com Bruce Willis dando show de ironia e bom humor, mas é Alan Rickman, como de costume, que rouba o show, e dá vida a uma dos mais icônicos vilões do cinema: Hans Gruber. Com sua voz pausada e calma, Rickman traz um personagem enervante e misterioso, que sempre fascina quando está em tela. Grande ator.
Mas a direção reina soberana nesse filme, com John McTiernan brilhando em cenas de ação de excelência, bem coreografadas e que apresentam sempre momentos inesperados. Preste atenção na cena envolvendo cacos de vidro e veja se não dá uma aflição na hora.
É impossível falar desse filme sem encher o texto de superlativos. Apenas assistam.
É isso. Coloquei apenas 4 filmes, por que nessa época, é muita correria e muita coisa pra comprar. Então tire um tempinho de descanso e aproveite esses filmes.
Um abraço e feliz natal.
Ricardo Reis
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