O Ferry Sewol de origem japonesa, construída em 1994, e com capacidade de transporte para 921 passageiros, 35 tripulantes e 180 veículos e containers de até 6,10 metros, transportava 476 pessoas até a Ilha de Jeju saindo de Incheon no momento do desastre.
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A causa do acidente, determinada pela guarda costeira sul-coreana, foi o deslocamento das cargas causada por uma mudança súbita de direção da balsa mas, especialistas especulam má conduta dos tripulantes e problemas técnicos. A embarcação naufragou nas costas da ilha de Jindo (sudoeste) e ficou conhecida como uma das maiores catástrofes marítimas da história da Coreia do Sul.
O capitão do Sewol, Lee Joon-Seok, foi o primeiro a abandonar a balsa e pediu para que a tripulação ordenasse a todos que ficassem em seus lugares “para a sua própria segurança”. A maioria das 172 vítimas que sobreviveram se encontravam no deck superior e puderam pular em botes salva-vidas, mas as crianças permaneceram em suas cabines, no deck inferior, sem questionar a ordem dos adultos, seguindo os costumes hierárquicos da sociedade sul-coreana. A balsa acabou afundando às 14h37, quase sete horas depois da embarcação virar.
Os mergulhadores que trabalham nas buscas pelos desaparecidos contaram que o estado de alguns corpos mostraram o pânico que se instaurou dentro da balsa. A maior parte dos corpos se encontravam com os dedos, pulsos e tornozelos quebrados, indicando uma tentativa desesperada de quebrar os vidros e subir no teto e nas paredes da embarcação para fugir da água. “Somos treinados para ambientes hostis, mas é difícil ser corajoso quando encontramos corpos na água escura”, disse Hwang Dae-sik, um dos mergulhadores que trabalhou na operação de resgate.
Além disso, muitos dos celulares encontrados ainda funcionavam, e neles haviam vídeos dos últimos momentos, onde muitos jovens aproveitaram para deixar uma mensagem aos seus familiares, enquanto outros mantiveram o bom humor e a esperança de que os adultos os salvariam.
Hoje a embarcação não se encontra mais no fundo do mar e sim exposta no porto de Mokpo, cercada por uma cerca de arame que vive constantemente cheia de fitas amarelas, além das imagens de dois alunos do Danwon High, um professor que voltou à balsa para procurar seus alunos e de uma criança e seu pai, que ainda estão desaparecidos.
Consequências políticas
A presidente da época, Park Geun-hye, recebeu duras críticas pela falta de êxito em conseguir resgatar passageiros desaparecidos com vida e a demora em se pronunciar a respeito. A sua resposta oficial veio apenas 13 dias após o acidente. “Peço desculpas às pessoas. Estou muito abalada pela perda de tantas vidas valiosas”, afirmou durante uma reunião com seu gabinete, depois que várias vozes críticas pediram nos últimos dias que a presidente fizesse “mea culpa” pelo gerenciamento do acontecimento. Ela ainda pediu perdão “pela incapacidade de prevenir o acidente e a resposta inicial insuficiente” de seu governo, deficiências que ficaram em evidência.
Park, filha do ditador Park Chung-hee, se tornou a primeira presidenta da Coreia do Sul, ao ser eleita em 2012 com a maior votação da história democrática do país.
Em dezembro de 2016, o Parlamento destituiu Park por corrupção e abuso de poder, em uma decisão confirmada nesta sexta pela mais alta corte do país. Park, de 65 anos, se tornou a primeira líder sul-coreana eleita democraticamente a ser retirada do cargo.
O primeiro-ministro da Coréia do Sul na época, Chung Hong-won, renunciou ao cargo após assumir a responsabilidade pela tragédia admitindo “irregularidades e malfeitos na sociedade sul-coreana” que ele disse “esperar que sejam corrigidos para que acidentes como esse não ocorram novamente”. A oposição do país enxergou a sua renúncia como um ato de irresponsabilidade e covardia.
Prisões
O diretor da empresa proprietária do navio Sewol foi condenado a dez anos de prisão por negligência remodelando a embarcação e a sobrecarregando para compensar o déficit da empresa, mesmo sabendo que isso comprometeria a estabilidade da balsa.
O dono da empresa, Yoo Byung-un, foi encontrado morto e dois de seus filhos foram presos por irregularidades envolvendo o acidente. Desde o acidente até a sua morte ele havia se tornado o homem mais procurado da Coréia, com uma recompensa de 500 mil dólares por informações que levassem a sua captura. A Promotoria acusou Yoo de desvio de fundos, evasão e suborno depois que as investigações realizadas após o naufrágio descobriram supostas transações ilegais tanto da Cheonghaejin Marine, como de suas filiais, além da Igreja Evangélica Batista ligada ao conglomerado empresarial da qual era fundador e influente membro.
O capitão foi condenado a prisão perpétua. O Alto Tribunal de Gwangju declarou Lee Joon-Seok culpado de homicídio, por não cumprir suas responsabilidades como capitão durante o naufrágio. A sentença destaca que o capitão se mostrou passivo durante os momentos cruciais, pois não deu ordem de evacuação da embarcação quando deveria tê-lo feito, e não efetuou também esforços para resgatar os passageiros.
Homenagens
Além de diversas esculturas espalhadas pelo país, datas para lembrar do ocorrido e as fitas amarelas, a cultura pop sul-coreana sempre relembra o ocorrido. Mais recentemente podemos notar essa crítica na fé que os alunos de All Of Us Are Dead possuem nos adultos. Também podemos notar algumas referências ao desastre em músicas de grupos famosos. Teorias apontam que o MV de One Of These Nights, do Red Velvet, seja uma homenagem velada ao acontecido, já que nunca foi confirmada a real intenção de tudo.
Outra música que é sempre lembrada é Yellow Ocean, dueto de Cheetah e Jung Sung Hwan apresentado no programa Tribe of Hip Hop 2. Antes de iniciarem a performance da música, foi exibido um trecho de uma reportagem falando sobre o incidente.
Spring Day
Mas Spring Day é a homenagem mais famosa feita às vítimas deste desastre. Em 2017, o BTS lançou um MV cheio de referências, e uma única mensagem: a saudade. Mas foi só em 2020, três anos após o lançamento, que o boy group pode, enfim, confirmar as teorias.
Na época do lançamento da música, os artistas que tentavam falar sobre o crime, ou demonstravam apoio aos familiares das vítimas, eram colocados em uma lista indesejada do governo, e assim, sofriam punições.
Mesmo assim, tendo em vista a tensão política vivida na Coréia do Sul em 2014 o BTS — ainda novo e com pouca visibilidade — fez questão de prestar homenagem às vítimas e apoio às famílias, mesmo sabendo das possíveis retaliações do governo da época. Além disso, o BTS e o CEO da Big Hit Entertainment, Bang Sihyuk, doaram cerca de 100 milhões de wons coreanos para as famílias das vítimas.
Análise
O clipe começa com o Taehyung em uma estação de trem desativada. Ele ainda assim caminha até os trilhos, se ajoelha e encosta a cabeça para ouvir algum movimento dos trilhos, mas escutamos o barulho do apito de um navio.
A câmera segue o caminho e o trem que o Taehyung está esperando não aparece. Ele continua sozinho pelos trilhos, representando o sentimento das famílias das vítimas que ficam esperando o retorno daqueles que já se foram.
As primeiras palavras “Sinto sua falta” começam com o Jimin olha o mar. Um tempo depois podemos notar um sapato na beira do mar e as roupas estragadas do Jimin, se referindo as roupas das vítimas, também perdidas ao mar, bem como os sapatos que foram deixados no píer nos dias seguintes à tragédia, como tributo.
Seguimos para a cena da lavanderia e o Jimin, ao lado do sapato, representaria um amigo que se foi. Há uma teoria de que a lavanderia representaria a balsa.
As portas arredondadas das máquinas de lavar seriam as janelas da embarcação e as roupas dentro representariam as vítimas.
O Jin colocando uma moeda na máquina para que ela funcione, seria uma alegoria representando pessoas do governo que possuíam interesse econômico na empresa da balsa e que estavam envolvidas com corrupção para que a balsa funcionasse com um alvará mesmo estando fora das condições ideais para tal. A máquina girando as roupas, seria como o navio virando de lado e afundando e as roupas das malas dentro das cabines se espalhando lá dentro durante o processo.
Nessa cena da lavanderia também é possível notar um papel colado em todas elas. A única coisa escrita que é possível distinguir deste papel é “Don’t forget”, ou seja, “Não esqueça”.
Este é um dos slogans mais usados para relembrar tragédias, mas no caso da Sewol, possui um sentido especial, já que todos diziam repetidamente para os sobreviventes e para os familiares das vítimas para aceitar o que aconteceu e esquecer.
Nesse trecho, a música diz “Por favor fique, fique aí um pouco mais”, bem no momento em que a câmera captura o Jin “dentro” da máquina, sendo uma referência às ordens absurdas que foram continuamente transmitidas aos passageiros e estudantes da balsa Sewol, para se manterem dentro das cabines enquanto o navio afundava.
A cena do Jin “dentro” da máquina também lembra a imagem, de um dos mergulhadores contratados para resgatar os corpos do mar, dentro de uma câmera de ar, sendo uma crítica ao governo que mentiu o número de mergulhadores contratados para resgatar as vítimas.
Além disso, a mídia continuava a mostrar notícias como essa do mergulhador para assegurar a nação de que o governo estava fazendo o máximo possível, mas eram sempre notícias falsas.
As cenas da lavanderia acontecem com o relógio da parede apontando por volta de 9:35. Entre 9:30 e 9:45am, o equipamento de comunicação da Sewol parou de funcionar e a equipe foi resgatada, enquanto os passageiros foram deixados à própria sorte.
A cena do Yoongi sentado em uma pilha de roupas representa as pessoas que nos deixaram, cercadas pela escuridão, que seria o fundo do mar.
Já nas cenas do Jungkook com o carrossel podemos notar vários laços amarelos presos ao carrossel, um símbolo fortemente ligado ao acidente. Laços amarelos possuem vários significados, mas estão comumente associados a aqueles que esperam o retorno de alguém amado. Eles pertencem à categoria de laços de atenção usados para expressar apoio a causas e campanhas civis. Mais especificamente na Coréia do sul ele tem sido muito usado como símbolo em memória das vítimas da Sewol. Vários locais e estradas do país foram coloridos com laços amarelos da esperança.
No carrossel, ainda é possível ler YOU NEVER WALK ALONE (Você nunca caminha sozinho). “You’ll never walk alone” também é um concerto musical da Broadway, chamado exatamente de ‘Carousel’, e é performado em 2 atos: o primeiro com tema de luto e o segundo de conforto. Há ainda uma árvore dentro de um círculo que representa a vítima, mas também o ciclo da vida, e que está ligado à árvore que aparece no final do clipe.
Outro detalhe é a condição do carrossel: enferrujado e estragado, em uma condição parecida com a Sewol que foi recuperada do fundo do mar após o impeachment da presidente Park.
O letreiro escrito Omelas faz referência ao conto Aqueles que Abandonam Omelas de Ursula K. Le Guin; o conto trata sobre um festival de verão na cidade utópica de Omelas, onde todos vivem felizes — mas essa felicidade tem um preço: uma criança deve viver segregada em um porão escuro, nua e má nutrida, uma condição que logo vai levá-la a morte.
A placa de sem vagas se refere ao fato de que o bem-estar da sociedade está apenas restrito a alguns. O significado da estória de Omelas pode ser comparado também ao filme Snowpiercer, ao qual o clipe musical também faz referência.
O Snowpiercer é um trem que se mantém em constante movimento ao redor da Terra, que foi afetada por uma nova era do gelo. Os últimos sobreviventes todos vivem dentro do trem, que possui os vagões divididos por classes sociais: os mais ricos vivem nos vagões da frente, enquanto os mais humildes nos últimos. No filme, os pobres são constantemente oprimidos pelos ricos, que às vezes sequestram suas crianças; eles então organizaram uma rebelião para chegar à frente do trem e o conquistar, mas ao chegar lá descobrem que para o trem continuar funcionando eles precisam que crianças pequenas o suficiente tomem conta da manutenção da máquina em condições terríveis.
No clipe, o hotel Omelas parece ser simbolicamente dentro do trem, a representação dos vagões reservados aos ricos, que vivem às custas dos pobres e exploram crianças.
Há cenas do Jin e do Taehyung imitando câmeras com as mãos, para guardar as boas lembranças daqueles que se foram. Além disso, nessa cena em específico, Jin parece fazer o símbolo de uma câmera enquanto todos os outros membros sobem as escadas e ascendem. Uma simbologia para aqueles que ficam apenas com as lembranças dos que se foram.
Na sequência seguinte, dentro do trem, algumas coisas acontecem: Jungkook corre passando pela lavanderia, sozinho, perdido, encontra os membros mas quando chega na saída, o trem está passando, indo embora. No instante seguinte, temos ele com outra roupa sentado dentro do trem, olhando para fora, vendo seu eu e seus amigos ficando para trás. Em seguida, Jungkook fecha os olhos e o Namjoon, também parado dentro do trem, fecha os olhos e inclina a cabeça para baixo, numa pose de luto.
Como dissemos antes, a lavanderia representaria a balsa. Assim, essas cenas representariam o momento de partida das vítimas, quando a alma deixa o corpo — e o trem entrando no túnel, a passagem, do momento da morte.
Após o momento da morte, vemos os membros em cima das pilhas de roupas, não mais no abismo escuro do oceano, mas sob as nuvens no céu, mais uma representação dos passageiros que foram vítimas do desastre.
Por fim, nas cenas finais, temos os sapatos pendurados em uma árvore — representando alguém que morreu em circunstâncias trágicas e a solenidade da cena sugere que os meninos estão prestando respeito ao memorial. A cena traz um sentimento de memória, solidariedade e conforto. Afinal, todo o clipe foi feito para transmitir essa sensação: as cores são suaves, mas vívidas, e os locais são abertos e amplos, ou fechados e aconchegantes.
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