O que aconteceu com o cinema de hoje em dia?


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Olá, meus leitores quarentões. Enquanto a gente não sabe como as mudanças dessa plataforma vão afetar as coisas, eu vou compartilhar com vocês um pensamento que tive escrevendo sobre Jesus, na semana passada. Relaxem, que não vou pregar para vocês. Nada disso. Mas fiquei pensando: o que aconteceu com os filmes épicos? Aliás, o que aconteceu com o cinema de hoje em dia?

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O cinema (comercial) sempre teve a necessidade de encantar a audiência com produções grandiosas, até megalomaníacas. Filmes como Ben-Hur ( e suas múltiplas versões), Cleópatra, Spartacus, enfim, esses grandes épicos, além de produções como E o Vento Levou…, ou O Mágico de Oz, tinham o objetivo de levar o público a entrar numa jornada que não viveriam no seu dia-a-dia. Era a magia do cinema. 

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Na década de 1950, com a popularização da televisão, Hollywood sentiu que precisava investir em produções que levassem o público de volta para as salas de cinema. Aliás, o cinema está sempre competindo com o próximo avanço tecnológico que vai tirar o seu público. Então, nessa época surgiram as telas muito grandes, enormes. A ideia era que o público fosse atraído de volta aos cinemas porque telas desse tamanho, obviamente, não existiriam em suas casas.

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Laurence Olivier e Jean Simmons em Spartacus (1960). Grandes épicos do passado

Não que isso tenha mudado muito. Há dez anos nós víamos o (re)surgimento do cinema em 3D, que é horroroso. E, pouco depois, as tvs em 3D fizeram a novidade acabar. O cinema, aliás, investe cada vez mais pesado em filmes lotados de efeitos visuais. E cada vez menos em histórias bem escritas. E isso me faz voltar aos épicos clássicos.

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Outro dia eu estava pensando: qual foi a última produção de época, seja medieval, ou no período romano, que eu vi e pensei: nossa, que fantástico? Sim, foi Game of Thrones. Uma série de tv, e não um filme. E a coisa piora quando a gente lembra do remake do clássico Ben-Hur, que contava com Rodrigo Santoro, e mesmo assim, foi um filme ridículo. 

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Ben-hir de 2016: vazio e ridículo

Esse pensamento me fez pensar  duas coisas: ou nós perdemos a capacidade de nos encantar com os filmes, ou Hollywood perdeu a capacidade de fazer grandes épicos. 

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Claro, isso é uma concepção puramente pessoal. Mas, da maneira que eu vejo, o cinema evoluiu tanto, que perdeu a magia. 

Quando a gente vê a corrida de bigas em Ben-Hur, de 1959, a gente imediatamente fica pensando em como eles produziram aquilo? Será que morreu alguém? Será que eram cavalos de verdade? Será que era perigoso? Era algo fora do comum, inimaginável. Hoje em dia, assistindo a mesma cena no remake, a gente já sabe que foi tudo feito no computador. Não é mais a mesma coisa. A magia se perdeu.

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Talvez por isso que Christopher Nolan insiste em propagandear que tudo nos seus filmes é de verdade, e não feito no computador. Sabemos que é um exagero, mas é melhor acreditar e poder ter a sensação de encantamento assistindo aos seus filmes, do que imaginar mais um cenário digital na sua cara. 

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A grande muralha. Filme absolutamente vazio

Outro problema das produções de hoje em dia, são os roteiristas. Como tem roteirista ruim hoje em dia, meu Deus. Mesmo Game of Thrones, que era um evento semanal, que arrastava multidões, teve um final bocó. Então quer dizer, os caras não sabem mais escrever. Outro dia eu estava assistindo a um filme chamado A Grande Muralha, com o Matt Damon, e eu notei que o filme não tinha proposta. Você gasta noventa minutos do seu tempo em um filme que não diz a que veio. Os personagens evoluem tão pouco, que parecem iguais ao início do filme. As criaturas, embora tecnicamente bem feitas, não funcionam como antagonistas sérios da trama, pois mal sabemos sua motivação. 

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Senhores, um filme não pode ser sobre nada! Mesmo que sua intenção seja apenas divertir a galera, você precisa escrever um filme que fale de alguma coisa. Voltemos a Ben-Hur (de novo). O filme pode ser visto apenas superficialmente, com uma bela história de vingança, que vira redenção. E, se bem contada, como nesse caso, já seria satisfatório. A transformação do personagem principal, de um príncipe mais despreocupado, a escravo, e depois a um romano, sempre em busca da vingança, até que ele, ao encontrar com Jesus e mudar sua forma de pensar, em si só, já é um arco magnífico. 

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Mas o filme quer mais: o filme, por baixo dos panos, digamos assim, fala sobre opressão. Em um período na história em que a opressão comia solta nos EUA. Inclusive há quem diga que a relação entre Ben-Hur e Messala é quase homossexual. Não sei se compro essa tese, mas de fato, se prestar bem a atenção, a gente vê ali uma briguinha que me parece bem mais que política. Mas comprando ou não a tese, o fato é que o filme passa uma série de ideias que talvez você nem perceba. Isso é um filme bem escrito. 

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Ben-hur e Messala: seria um romance gay?

Claro que isso não vale apenas para os épicos. Eu trago esse tipo específico de cinema, pois para mim, os filmes de hoje não são mais capazes de encantar, de surpreender. Os filmes não passam nada. Não tem sequer a lição de moral no final, já que na Hollywood moderna, moral ficou pra trás. 

E tem também, e isso pra mim é a pior coisa, a inserção de conceitos modernos em filmes que não se passam no nosso tempo. Ora, na idade média, as mulheres não iam, obviamente, para as batalhas. Mas na Hollywood woke de hoje em dia, não pode. Então eles colocam a Cate Blanchett de armadura no meio da guerra em Robin Hood (aliás, esse é ruim mesmo). 

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Na Inglaterra do período da Elizabeth I, não haviam negros ou asiáticos em posição de influência na corte. Mas em Duas Rainhas, quem interpreta o personagem real Lord Randolph, é o ator Adrian Lester. Provavelmente é um bom ator, essa não é discussão. O problema é que fica anacrônico, e acaba por tirar a imersão. Isso quando os personagens de 500 anos atrás não abrem a boca para discursar por, sei lá, feminismo, inclusão, coisas que não faziam sentido na época. E eu nem quero entrar na vergonha que foi a Josephine de Napoleão, do ano passado. Já falei sobre esse filme aqui, e gostaria de esquecê-lo.

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Adrian Lester como Lord Randolph
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O verdadeiro Lord Randolph

O fato de os roteiristas (e produtores, e diretores, e elenco) não conseguirem esquecer, nem por um segundo, das suas visões políticas para se concentrarem em entregar uma obra coesa, sem a tal lacração, afeta a qualidade do produto final. É tanta forçação de barra, que o filme fica artificial. Se somarmos a isso o artificialismo dos efeitos visuais, a gente tem um produto que não encanta, não agrada.

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Amigos, os números estão aí. Hollywood vem, sistematicamente, perdendo arrecadação em bilheteria. Ninguém mais assiste ao Oscar. Ninguém se importa mais com os filmes de hoje. Aliás, ninguém discute mais os filmes. Discute-se a lacração, algum escândalo de bastidor, e o eventual fracasso nas bilheterias. O filme em si, ninguém fala. As vezes nem os críticos. A lição que fica é: ou o cinema volta a focar em bons filmes, com grandes produções, que tenham o brilho na direção de um William Wyler, uma baita produção, e que conte uma baita história, e deixe de ser apenas um veículo para lacração e efeitos visuais, ou o cinema vai afundar. E talvez seja um ponto já sem retorno.

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Ricardo Reis

Olá. Meu nome é Ricardo Reis, empresário, ex-professor e (ainda) entusiasta de cinema.

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