Aviso: O texto contém hiperlinks para playlists no Spotify, como forma de levar uma experiência também auditiva para quem lê essa coluna.
No universo musical de nosso país, emerge um estilo vibrante e pulsante que tem conquistado cada vez mais espaço nos últimos anos: o Afro House Brasileiro. Este gênero é o resultado da fusão de elementos da música eletrônica com ritmos regados de percussão, tão presente na cultura africana. Essa conexão brasileira, tem ganhado destaque nas pistas de dança e nos ouvidos dos amantes da música em todo o país (e no Mundo).
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Esta construção cria uma sonoridade única e envolvente, que combina batidas pulsantes com melodias cativantes. Uma das características marcantes do Afro House Brasileiro é a sua energia contagiante, que tem o poder de fazer as pessoas se moverem instintivamente ao ritmo da música. As batidas hipnóticas e o groove bem marcado, são capazes de transportar o ouvinte para um estado de êxtase e liberdade, onde o corpo se entrega completamente à dança.
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Outro aspecto interessante do Afro House Brasileiro é a sua capacidade de se reinventar e se adaptar a diferentes contextos e influências. Ao longo do tempo, o gênero tem absorvido elementos de outros estilos musicais brasileiros, como o samba, o funk e o maracatu, enriquecendo ainda mais a sua sonoridade e expandindo os seus horizontes criativos. Uma clara capacidade brazuca em miscigenar influências e criar algo que renova os estilos existentes, promovendo um novo olhar sobre tudo que já foi inventado.
Com essa energia contagiante, a mensagem poderosa das produções nacionais nesse segmento, promete continuar conquistando corações e mentes, enquanto nos conduz a uma jornada de celebração, diversidade e união através da música.
O estilo no Brasil
No Brasil, o Afro House tem ganhado cada vez mais destaque, com várias produções de alta qualidade. O duo Drunk Daniels lançou o álbum “Zabumba” em 2019, apresentando 13 faixas do gênero, incluindo o sucesso “Guanabara”, que chegou ao Top 100 do Traxsource. O artista Cris D. também se destaca com suas produções, como a faixa “Pandora”, lançada pela House Box Records. Além disso, o produtor Shouse conquistou o pódio do Top 100 do Afro House no Beatport com a faixa “Love Tonight”, que recebeu remixes de Vintage Culture e Kiko Franco (olhar brasileiro para produção gringa).
Maz (BR), é um produtor/DJ, que tem sido capaz de contribuir com o cenário do Afro House brazuca de forma notável. No ano de 2022, alcançou a 10ª posição mundial no ranking do Beatstats e o 1º lugar no Beatport, com seu remix da música “Banho de Folhas”, de Luedji Luna; que também atingiu 2 milhões de streams no Spotify. O sucesso da faixa chamou a atenção de renomados DJs e artistas, incluindo Vintage Culture, que o convidou para se apresentar no Hï Ibiza. No ano seguinte, também conquistou o 1º lugar no Beatport (segmento afro house), agora com a faixa “Povoada”, um remix de um cântico de 1:30h, transformado numa música envolvente, com batida ascendente e uma mensagem marcante – essa foi a faixa mais ouvida por mim em 2023. Com sua percepção sobre tonalidade percussivas envolventes e sua inusitada criatividade, Maz (BR) se consolida como um dos maiores representantes do Afro House Brasileiro no cenário internacional.
Não paro de me deparar com boas referências brasileiras, enquanto me dedico a um cardápio infinitamente ramificado por nosso território. Resultado da brasilidade marcante, são produtores que carregam suas músicas com ancestralidade, swing de bamba e muito de nosso místico folclore. Cito o produtor/DJ Antdot (BR), grande parceiro do já mencionado MAZ, também mantém um repertório autoral impecável e farto em excelentes resultados dessa mistura. Aproveito e indico aqui o vídeo do set deles gravado no último Tomorrowland Brasil (2023), onde mostram essa química linda que brota a cada batida (pegue o babador).
Eu poderia ficar aqui enumerando nomes e mais nomes de produtores/DJs nacionais que mostram um repertório infinito de coisa boa e ritmos dos mais diversos. Mas preferi indicar duas playlists deste gênero, formadas por gente que entende mais que eu, que desci “outro dia” nessa estação e ainda estou na fase de ficar degustando som atrás de som.
Afro Brazilian House by Curol Ribeiro – essa dica vem de outra boa influência em meus ouvidos, chamada de Curol, que é produtora de um material sonoro repleto de brasilidade, além de clara capacidade de formar um estilo musical único. Nessa playlist criada e mantida por Curol, você terá um belo exemplar da capacidade afro house nacional. Além de muito material de Curol, você tem uma coexistência com músicas de Maz (BR), Antdot, Soldera, Barbatuques, André Moret, ZAC, Natema, entre outras participações de Diplo, DJ Chus, Black Coffee, The Angels e muito mais – são mais de 06h desse magnífico beat.
Também, aponto aqui a lista de música Afro BR Brazilian House, que apesar de uma menor carga horária, mantém um repertório excelente e diverso em influências de nossa cultura, conectada ao ritmo eletrônico – hora melódico e místico, hora acelerado e forte no tom. Divirta-se nessa mistura musical.
Origem do estilo sonoro
A África do Sul foi marcada por um longo período sob as injustas leis do Apartheid, um regime de segregação racial que vigorou a partir de 1948. Implementada pelo primeiro-ministro da época, essa legislação dividia os habitantes em grupos raciais, causando violência e gerando um significativo movimento de resistência por parte do povo. O Apartheid só chegou ao fim em 1994, mas deixou um legado de luta e superação.
Com o fim do Apartheid, a House Music começou a se disseminar pela África do Sul, tornando-se uma presença constante em diversos locais, desde rádios até supermercados. Esse estilo musical se tornou a trilha sonora da liberdade para muitos sul-africanos, representando um período de esperança e renovação.
Em 1998, a gravadora House Afrika lançou a compilação “Fresh House Flava vol. 1”, composta por 12 faixas que rapidamente conquistaram as paradas de sucesso do país (achei apenas link para Youtube, com as dozes músicas numa faixa contínua). Esse lançamento marcou um ponto de virada na cena da House Music sul-africana e inspirou os produtores locais a criarem seu próprio som, dando origem ao Afro House. Esse gênero, caracterizado pela fusão de batidas e ritmos da House Music com elementos da rica cultura africana, nasceu como uma expressão única e autêntica da identidade musical sul-africana.
Embora as raízes do Afro House estejam profundamente enraizadas na África do Sul, ele transcendeu as fronteiras geográficas e se tornou apreciado em todo o mundo. Um dos responsáveis por sua popularização foi o DJ e produtor Black Coffee, cuja faixa “Superman” (2009), que traz vocais da sul-africana Bucie, alcançou sucesso internacional, por justamente mostrar as referências africanas sob um manto de sofisticação sonora. Prepare-se para uma bela experiência musical.
Ele que vem ao Brasil com certa frequência (tocou em janeiro em terras cariocas), adora nosso som e semelhanças musicais. Não resisti e também quero indicar uma playlist criada a partir do trabalho dele como DJ em Ibiza (onde tem residência no club Hi Ibiza), com muita música envolvente: Black Coffee Ibiza 2024 – Afro House.
Outro sul-africano com suma importância na construção dos caminhos desse afro ritmo, é o produtor Themba, com sua sonoridade mística, com ritmada e cânticos tribais, ele mostra como a riqueza cultural do continente africano garante carisma, força e conduz nosso corpo. Ouvir seu repertório sofisticado e energizante no modo aleatório, também pode ser uma aventura inesquecível junto ao Deus Som.
Vida longa ao som bom (em um bom som).
Até a próxima sexta feira.
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