Olá, meus queridos quarentões. Sabe, é muito dificil saber o que escrever semana após semana. Mesmo falando de filmes clássicos, ás vezes a inspiração não bate, e aí ou eu falho com a coluna (peço perdão), ou eu tento tirar algo da cartola. Mas aí, pra hoje, eu pensei: se nós falamos de cinema clássico, porque não falar de um filme sobre filmes clássicos. Então hoje vocês vão conhecer (e espero que assistir) Crepúsculo dos Deus!
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“Sunset Boulevard” , seu título original, se desenrola em torno de Joe Gillis (interpretado por William Holden), um roteirista desempregado que, acidentalmente, entra no mundo de uma ex-estrela do cinema mudo, Norma Desmond (interpretada por Gloria Swanson). Desmond vive isolada em uma mansão decadente e fantasia sobre um retorno triunfante às telas de cinema.
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O filme narra a relação complexa entre Gillis e Desmond, enquanto ele se torna seu roteirista pessoal e, gradualmente, se afunda no mundo ilusório e trágico da estrela em decadência. O filme é uma exploração sombria da obsessão pela fama, da passagem do tempo e da decadência de uma era, com uma reviravolta final impactante, que não vou estragar, que continua a ser uma das mais memoráveis na história do cinema.
O maior triunfo da obra reside incontestavelmente na interpretação magistral de Gloria Swanson e na presença imponente de sua personagem, Norma Desmond. Norma é obcecada por sua própria beleza, perpetuamente assistindo seus próprios filmes e se metamorfoseando em uma versão cada vez mais extravagante e caricata do que um dia foi diante das câmeras. Ela personifica todo o esplendor e exagero de Hollywood, mas está completamente alheia ao ponto em que ultrapassa os limites, como boa parte de suas contrapartes da vida real agem hoje, nas redes sociais.
Embora o filme ostente humor negro e diálogos afiados em sua superfície, a narrativa é carregada de críticas contundentes ao culto das celebridades, às expectativas irrealistas relacionadas aos padrões de beleza e, sobretudo ao papel das atrizes na indústria após uma certa idade. O filme, em si, é uma alfinetada bem data na indústria, e em como Hollywood não deixa de dispensar figuras que se tornam irrelevantes, diante da evolução técnica da produção dos filmes. Ou seja, se Norma Desmond era uma estrela do cinema mudo, o cinema sonoro não se fez de rogado em condená-la ao ostracismo.
Uma das delícias deste filme reside na maravilhosa presença de diversas luminárias da era do cinema mudo. É uma verdadeira festa para os amantes do cinema clássico, quando ícones incontestáveis, como Buster Keaton e Cecil B. DeMille, fazem aparições especiais que envolvem os espectadores em um estado de pura euforia cinematográfica.
DeMille desempenha um papel comovente em um dos momentos mais marcantes do filme, quando Norma, Max e Gillis visitam os estúdios da Paramount e a antiga estrela do cinema se encontra com o renomado diretor de “Os Dez Mandamentos” (1956). Nessa cena, a película expõe de forma clara a dicotomia entre a ilusão e a dura realidade que permeiam a indústria cinematográfica. DeMille serve como um lembrete de que figuras como Norma Desmond nem sempre foram como são agora, e sua frase “uma dúzia de agentes de imprensa podem fazer coisas terríveis com o espírito humano” ressoa com tristeza e verdade.
O personagem de Erich von Stroheim desempenha um papel complexo como Max von Mayerling, o mordomo leal e dedicado de Norma Desmond. Max é uma figura enigmática que carrega um profundo segredo relacionado ao passado de Norma, e sua devoção à estrela decadente é notável. Von Stroheim traz uma presença magnética e uma aura de mistério ao seu papel, destacando-se como um dos elementos fundamentais que contribuem para a riqueza do filme, à medida que a história desvenda as camadas ocultas do relacionamento entre Norma e Max. Sua atuação é uma peça-chave na construção da atmosfera sombria e envolvente do filme.
Essa obra-prima de Billy Wilder, que ele dirigiu e co-escreveu com Charles Brackett e D.M. Marshman Jr., oferece ao espectador um retrato chocante e fascinante de uma Hollywood longe do glamour que a gente imagina. Wilder, um baita roteirista e diretor, é conhecido por sua filmografia diversificada, incluindo obras como “Pacto de Sangue” e as comédias “Se Meu Apartamento Falasse” e “Quanto Mais Quente Melhor”. Sua habilidade na elaboração de roteiros é inegável, e essa característica é evidente em “Crepúsculo dos Deuses”. O filme apresenta um estudo de personagem envolvente e desafia as convenções do gênero noir, ao representar a femme fatale através de uma estrela decadente do cinema mudo. A narrativa desvenda os motivos e circunstâncias de um crime cujos responsáveis já conhecemos. Wilder demonstra sua atenção aos detalhes e sua dedicação em criar uma atmosfera dramática, repleta de rimas visuais que complementam a história.
No aspecto visual, “Crepúsculo dos Deuses” é notável por sua habilidade de fundir o realismo com uma estilização marcante. O filme consegue conjugar com maestria o mundo concreto em que Joe Gillis habita com a surrealidade do universo de Norma Desmond. Encaixando-se perfeitamente na estética do filme noir, a obra é enriquecida pela brilhante cinematografia de John F. Seitz, que explora de maneira excepcional o contraste entre luz e sombra. Vale lembrar que Billy Wilder, o diretor do filme, desempenhou um papel fundamental na definição do estilo noir com sua outra obra-prima, “Pacto de Sangue” (1944).
A direção de arte também merece destaque, aproximando a mansão de Norma de um castelo gótico, criando um ambiente sombrio e opulente. Esse cenário luxuoso se torna o pano de fundo ideal para momentos bizarros, como o velório do macaco de estimação, ou a cena em que a orquestra continua tocando, inabalável, mesmo diante de situações perturbadoras envolvendo a anfitriã da festa.
Este filme é, sem dúvida, um clássico sobre clássicos, um tributo à era de ouro de Hollywood e um lembrete de que, mesmo no crepúsculo de suas carreiras, as estrelas continuam a brilhar no firmamento do cinema. É uma obra que nos convida a olhar para trás e apreciar a história da sétima arte com um toque de humor e melancolia. Portanto, se você ainda não teve a oportunidade de assistir a “Crepúsculo dos Deuses”, reserve um momento para mergulhar neste mundo fascinante de glamour, decadência e nostalgia. Você certamente não se arrependerá.
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