É, meus queridos leitores quarentões, o cinema anda muito mal das pernas. Já perdi as contas de quantas sequências, reimaginações ou remakes desnecessários nós já falamos aqui nesse espaço. E pelo visto, não vai parar. Mas vamos aproveitar que o assunto está em alta e vamos falar sobre Gladiador 2, a continuação de um dos grandes épicos do cinema, dirigido por Ridley Scott. Sim, ele de novo. Um projeto que muitos achavam impossível — e, para alguns, eu incluso, talvez devesse ter permanecido assim.
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Desde 2001, Scott acalentava a ideia de revisitar o universo de Gladiador, mas os primeiros rascunhos de uma sequência, envolvendo Maximus como um guerreiro fantasma, que lutaria em todas as guerras da história, e pasmem, seria trazido de volta à vida para…matar Jesus, pareciam tão absurdos que nunca saíram do papel. Apenas em 2019, quase duas décadas após o original, uma nova visão começou a tomar forma, desta vez sem Maximus, mas com o mesmo peso dramático. E aqui estamos nós, transportados para o ano 200 d.C., testemunhando um novo capítulo da turbulência do Império Romano.
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O filme nos apresenta Lucius, interpretado com alguma competência por Paul Mescal, que cresceu desde os eventos do primeiro filme. Agora um jovem enraivecido e prisioneiro na Numídia, ele é levado à arena, onde começa sua jornada como gladiador e figura central no destino do Império. É uma história que revisita os temas de poder, sacrifício e glória, mas será que ela faz jus ao legado do original?
Lançar uma continuação de Gladiador é uma tarefa ingrata. O filme original encerrou sua história de forma bastante redonda. A morte de Maximus foi ao mesmo tempo o ponto final e o coração da trama. Qualquer tentativa de seguir adiante parecia uma afronta a essa completude. Em vez de tentar superar ou replicar o que já havia sido feito, Gladiador 2 opta por expandir o universo de forma mais comercial. A mensagem é clara: o Império Romano ainda tem muito a oferecer para o público.
Mas não tem. A verdade é que, desde o primeiro Gladiador, que recebemos uma enxurrada de épicos históricos, de variados níveis de qualidade. Se a trilogia O Senhor dos Anéis nos deu três anos incríveis de aventuras e uma jornada épica, filmes como Alexandre, Cruzada, Robin Hood (ambos de Scott), Tróia, enfim, e tantos outros, acabaram por eliminar o fator épico, e transformou esses filmes apenas em aventuras caras ambientadas em algum ligar da História. Além disso, a tecnologia, que permite que essas produções fiquem cada vez maiores, também tirou a aura de mistério sobre os detalhes das produções, e, por consequência, eliminou a magia do cinema. Ora, quando assistimos a Ben-Hur, ficamos pasmos em imaginar o trabalho envolvido naquela produção grandiosa. Hoje, a gente sabe que foi tudo feito no computador. Qual a graça?
Ridley Scott continua mestre em criar espetáculos visuais. A recriação de Roma, das arenas de combate e das batalhas é um deleite para os olhos. A direção de arte e os figurinos são impecáveis, e a fotografia captura cada detalhe com uma precisão que impressiona. Mas essa grandiosidade vem acompanhada de algumas escolhas questionáveis.
Um exemplo claro é a inclusão de uma sequência de batalha naval simulada no Coliseu, com tubarões soltos na arena. Sim, você leu certo: tubarões. É o tipo de cena que parece uma piada interna que escapou para a tela. Por mais bem-feita que seja tecnicamente, ela não se encaixa no tom do filme e acaba sendo mais risível do que emocionante. Essa busca por momentos gigantescos às vezes sacrifica a lógica e o bom senso narrativo.
No entanto, nem tudo são exageros. Há uma atenção aos detalhes nos cenários menores, nas interações mais íntimas e na construção de personagens. É nesses momentos mais contidos que o filme brilha. A relação de Lucius com seu passado, sua luta interna entre vingança e sobrevivência, e até mesmo as interações com outros gladiadores são bem desenvolvidas. Esses elementos dão uma profundidade ao filme que contrabalança, ao menos em parte, seus momentos mais extravagantes.
Em suma, como já disse aqui, Scott deixou de se preocupar com a trama de seus filmes, e passou a focar, exclusivamente, nos aspectos visuais da produção. Assim, apesar de criar quadros belissimos, seus filmes ficam cada dia mais ocos, ausentes de sentido e, ao final, totalmente esquecíveis.
As atuações, no entanto, até que não são ruins. Paul Mescal entrega uma atuação sólida como Lucius, construindo um personagem introspectivo e calculista. Ele não tenta ser um novo Maximus, o que é um alívio, mas sua jornada carece de um clímax emocional que realmente conecte o público. Quem rouba a cena, no entanto, é Denzel Washington (quem imaginaria?) como Macrinus. Sua presença magnética eleva cada cena em que aparece, trazendo uma gravidade que faz o espectador esquecer, por um instante, as fragilidades do roteiro.
Pedro Pascal, no papel do general Marcus Acacius, não é um destaque, e seu arco não só é prejudicado pela falta de tempo de tela, mas também pelo excesso de pascal em todas as telas. Não aguento mais ver o cara estrelar tudo. Em qualquer meio, tv, cinema…dá um empo, amigo. Os irmãos Caracala e Geta, interpretados por Fred Hechinger e Joseph Quinn, respectivamente, cumprem bem seus papéis como imperadores corruptos, mas carecem de camadas que os tornem memoráveis. Eles funcionam mais como antagonistas caricatos (caracteristica de quase todos os vilões dos filmes de Ridley Scott), sem a complexidade de um Commodus, vivido brilhantemente por Joaquin Phoenix no primeiro filme.
As sequências de batalha continuam sendo o ponto alto do filme. Scott, como eu disse, sabe como ninguém criar tensão e capturar a brutalidade dos combates. As cenas na arena, em particular, são um espetáculo à parte, misturando sangue, suor e lágrimas de maneira visceral. No entanto, o filme perde força sempre que tenta se aprofundar nas intrigas políticas. O arco envolvendo Macrinus, os senadores e a tentativa de derrubar os imperadores gêmeos é interessante em teoria, mas sua execução carece de impacto.
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No fim das contas, Gladiador 2 é um filme que tenta agradar a dois públicos: os fãs do épico original e uma nova geração de espectadores em busca de ação e espetáculo. Ele consegue entregar momentos até bacanas, mas não com a consistência necessária para justificar sua existência como sequência de uma obra-prima.
Por mais que a grandiosidade esteja lá, o filme carece da alma que tornou o original tão especial. Ainda assim, é uma experiência que pode agradar quem busca entretenimento épico e não se incomoda em suspender um pouco a descrença. Aliás, colocar trechos do filme clássico no meio do filme é tão brochante nesse filme quanto foi em Matrix 4, outro filme que….Deus me livre!
E vocês, o que acharam do filme? Acham que estou sendo muito duro com o querido Ridley? Deixem suas opiniões nos comentários. E, se gostaram deste texto, não se esqueçam de curtir. Isso ajuda muito este colunista aqui! Até a próxima.
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