Eu acho que não existe lugar mais apropriado para escrever sobre isso, do que o 40emais. Afinal, ao longo do tempo, é natural que a gente, ao longo do tempo, a gente fique menos afiado em nossas habilidades. O tempo sempre cobra um preço. E isso, infelizmente, aconteceu com o outrora grande Ridley Scott.
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E não é de hoje que o cineasta vem demonstrando ter perdido a capacidade de entregar bons filmes. Robin Hood, Prometheus, Alien: Covenant, A Casa Gucci e agora Napoleão, dão mostras que, mesmo com grandes orçamentos, elencos estelares e mesmo podendo lançar inúmeras versões do diretor de todos os filmes, Scott simplesmente não tem mais a capacidade de entregar coisas básicas, como roteiros minimamente amarrados e atuações convincentes de seus atores
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E Napoleão, infelizmente, não é diferente. Bem produzido ao extremo, o filme traz uma recriação da França pós revolução que é praticamente perfeita. Aliás, no quesito gráfico, o diretor continua muito bom, como sempre foi, em apresentar quadros magníficos, bem compostos, e que apresentam toda a grandiosidade que a temática pede. Isso sem dúvida. E devemos ser justos.
A questão é que, por mais bonitos que sejam, seus filmes estão ficando cada vez mais cansativos de assistir. Napoleão tem quase três horas de uma monotonia absurda, com um roteiro terrivelmente irregular, que não consegue nos passar o básico: afinal, quem foi Napoleão Bonaparte? Por que ele entrou para a história?
O filme perde muito tempo focando em aspectos idiotas da biografia do personagem, como as inúmeras traições de Josephine, e amontoa as passagens realmente importantes da vida militar e política de Bonaparte. Ou seja, o filme não tem foco.
E nem ritmo. Com uma montagem que parece fazer questão de tornar o espetáculo chato (chatissimo), o filme vai e volta, vai pra frente e pra trás, mas não consegue imprimir ritmo. Espero que a versão de quatro horas da Apple tv consiga sanar a questão, por que montagem é ritmo, e esse é um dos maiores problemas da produção.
Mas não o único. Ridley Scott fez ainda o impensável, e conseguiu trazer a pior performance de Joaquim Phoenix que eu já tive a tristeza de testemunhar: o ator parece querer fazer crer que o grande Napoleão Bonaparte era só um sujeito de muita sorte.
Fraco, com o carisma de uma batata cozida, e extremamente monótono de se assistir, a performance de Phoenix parece simplesmente não condizer com a figura histórica biografada. É importante que o filme se proponha a analisar a figura de uma forma realista, mas aqui tanto diretor quanto ator perdem a mão, e o realismo se torna caricatura em pouquíssimo tempo.
No meu texto sobre o trailer do filme, eu demonstrava preocupação pelo fato do ator sequer ter alguma semelhança com o personagem biografado, e eu tinha razão. Além da performance, Joaquim Phoenix parece muito mais velho que Napoleão, e como a atuação nao está ajudando, é muito difícil a mente acreditar que ali na tela, está retratado o grande Napoleão Bonaparte. É muito ruim mesmo.
Ao contrário de Vanessa Kirby, que, apesar de ter uma Josephine absolutamente chatinha e até mesmo meio “lacradora” (por falta de termo melhor), a atriz parece agarrar todo a a oportunidade de brilhar, e entrega uma performance digna e interessante, que definitivamente marca mais do que o protagonista. O que por si só me parece um erro.
Como em todos os trabalhos recentes de Scott, o diretor não parece interessado em desenvolver personagens interessantes, ou mesmo situações de suspense, ou uma história que tenha um arco coerente. Ao invés disso, fica claro para mim que o foco maior é em criar grandes sequências de batalhas. E isso o filme entrega bem. O problema é que, para que a ação do filme se torne efetiva, a gente tem que se interessar por quem está participando. E não é o caso aqui.
Além disso, a falta de interesse do roteirista e do diretor em desenvolver o resto dos personagens acaba criando uma narrativa em que ninguém se destaca, ninguém é interessante, e ninguém importa para quem está assistindo.
E isso acontece em todos os últimos filmes do cineasta. Em Alien Covenant, nenhum personagem ali era digno sequer de receber a torcida de quem assiste. Queria que todos morressem logo. Em Casa Gucci, todos são apenas caricaturas de pessoas reais, que não parecem ser realistas o suficiente para manter as quase três horas de filme.
Ridley Scott parece não perceber que apenas suntuosidade não faz o filme. Todos os elementos da criação cinematográfica devem estar presente para compor a obra. De outra forma, ficamos sentados durante três horas olhando belos quadros que se movem. E isso não é cinema.
Após uma carreira longa, é hora de Ridley Scott começar a colocar a arrogância de lado, e tentar voltar ao básico, se reinventar. Acho que ele deveria ser apresentado ao 40emais, e fazer uns cursos, ver uns eventos, e pensar em como pode voltar a ser o diretor que todos nós admirávamos. Ou se aposentar. O que não pode é manchar uma carreira tão boa com filmes tão ruins.
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