Da crítica social ao sucesso mundial, a produção sul-coreana segue expandindo seu universo, com teorias e novas temporadas à vista.
Em 2021, a bolha coreana ainda não havia estourado, e poucas pessoas conheciam os doramas, com o mercado asiático avançando timidamente no cenário ocidental. Até a chegada de Squid Game (ou Round 6, como ficou conhecida no Brasil). Impulsionada pela pandemia e pela busca por conteúdos que aliviassem os intermináveis dias de quarentena, a obra sul-coreana conseguiu quebrar a hegemonia das séries norte-americanas e conquistar notoriedade mundial.
A produção original da Netflix narra a história de um grupo de indivíduos em dificuldades financeiras que aceita um enigmático convite para participar de competições baseadas em brincadeiras da infância. Sem informações detalhadas, centenas de pessoas se dirigem ao local indicado, onde descobrem que o vencedor receberá um prêmio milionário capaz de mudar suas vidas e quitar suas dívidas. No entanto, o que eles não esperavam é que, para os perdedores, a derrota significa a morte. Agora, os participantes terão que enfrentar desafios brutais e lutar pela própria sobrevivência nesta competição mortal.
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Round 6 desvirtua a inocência das brincadeiras de criança, elevando seus resultados a algo violento e grotesco. Não dá para negar o quão desconfortável é ver uma chacina acontecer dentro de um ambiente de estética infantil e colorida. Dentro da visão utópica dos organizadores da competição, os participantes estão, ali, de igual para igual, com as mesmas possibilidades de ascender socialmente e superar as adversidades. Essa utopia de um mundo igualitário seria falha, mesmo se fosse verdadeira, já que nenhum dos competidores está realmente emparelhado ali dentro.
Nesse contexto de sucesso avassalador, vamos pular três anos e assistir à segunda temporada de Round 6. Apesar de ter sobrevivido aos jogos mortais de Round 6, Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), o jogador 456, continua atormentado pelo preço que foi pago para que ele conquistasse o prêmio: a vida de inúmeros participantes. Determinado a acabar de vez com os jogos, Gi-hun busca reencontrar o Recrutador (Gong Yoo) na esperança de se infiltrar novamente e derrubar o sistema de dentro. Seu objetivo é expor e impedir que In-ho (Lee Byung-hun) continue explorando pessoas financeiramente vulneráveis para sustentar um jogo tão perverso. Gi-hun tenta contar com a ajuda do policial Jun-ho (Wi Ha-joon), mas quando seus planos falham, ele acaba novamente dentro dos jogos. Agora, cercado por novos jogadores, ele decide usar sua experiência para liderar os demais e lutar para pôr fim a essa cruel sequência de mortes.
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A segunda temporada de Round 6 segue deixando claro que uma terceira parte está confirmada — e a sensação predominante é que ela já foi gravada. Com sete episódios, a temporada se divide de forma um pouco desconcertante, dando a impressão de ser uma continuação interrompida, dividida em duas partes para gerar mais expectativa. O episódio final, apesar de incluir uma cena pós-créditos, não oferece uma conclusão definitiva, deixando várias pontas soltas.
A narrativa, por sua vez, se desenvolve de maneira irregular e desequilibrada. Os dois primeiros episódios têm um ritmo lento e repetem, de forma cansativa, os mesmos temas: o policial investigando a ilha e Gi-hun à procura do Recrutador. Durante esse período, muitos personagens secundários são introduzidos, mas não acrescentam muito à trama. Só no terceiro episódio, quando o jogo retorna de fato, o público começa a sentir alguma expectativa. A série até melhora em alguns aspectos, com a introdução de novos desafios, mas, no fundo, repete muitos dos elementos da primeira temporada, sem oferecer grandes inovações.
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Embora a estrutura e os tipos de personagens sejam, de certa forma, reciclados, com novos atores assumindo papéis semelhantes aos da primeira temporada, essa repetição pode gerar uma sensação de cansaço no público. No entanto, a série ainda encontra maneiras de se divertir com os detalhes. Personagens como Thanos, interpretado pelo rapper Choi Seung-hyun, trazem uma boa dose de humor alucinado, e os novos jogos, como o carrossel, aumentam a tensão, trazendo também uma nova música que fica marcada na mente do espectador.
Em sua reta final, Round 6 muda um pouco sua abordagem, deixando de lado os jogos lúdicos e abraçando uma atmosfera mais semelhante aos videogames modernos de tiro. A história também ganha uma camada política mais evidente, com Gi-hun tentando organizar os participantes como um grupo para desafiar e derrubar o sistema. Embora a série não trate diretamente de política, a dicotomia entre os grupos (azul e vermelho), além da luta do protagonista contra o Líder e seus soldados de uniforme rosa, sugere uma dinâmica de guerra e estratégia política. Isso acaba dando um tom mais tático à trama, afastando-a de uma narrativa simples de entretenimento.
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Apesar de repetir muitos dos elementos da primeira temporada, a segunda parte de Round 6 consegue manter o interesse, principalmente pelos novos jogos e desafios, mas não consegue evitar a previsibilidade da trama. A falta de grandes surpresas impede que a temporada tenha o mesmo impacto de seu antecessor, embora ainda ofereça entretenimento e uma nova perspectiva sobre os elementos originais.
Curiosidades, Expansões, Teorias e Inspirações
Curiosidades sobre a Produção
•Criação e Desenvolvimento: Hwang Dong-hyuk, criador da série, idealizou Round 6 em 2009, inspirado por suas dificuldades financeiras pessoais e pelas desigualdades sociais na Coreia do Sul. No entanto, o projeto só foi levado adiante mais de uma década depois, devido à recepção inicial negativa.
•Premiação: Hwang fez história ao se tornar o primeiro asiático a ganhar o prêmio de Melhor Direção em Série de Drama na 74ª edição do Emmy.
•Cenários e Símbolos: O design dos cenários coloridos e labirínticos foi inspirado em obras de M.C. Escher, refletindo a confusão e o desespero dos participantes. Os uniformes verdes dos jogadores fazem referência aos antigos uniformes escolares da Coreia do Sul, enquanto os uniformes rosas dos guardas criam um contraste visual marcante.
•Pistas Visuais: No dormitório dos participantes, as paredes exibiam ilustrações dos jogos que ocorreriam a seguir, oferecendo pistas sutis para os espectadores mais atentos.
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O Sucesso da 2ª Temporada
•A segunda temporada de Round 6 estreou em dezembro de 2024 e rapidamente entrou para o TOP 3 das temporadas mais vistas da história da Netflix, com impressionantes 152,5 milhões de visualizações. Ela ficou atrás apenas da primeira temporada de Round 6 (265 milhões) e de Wandinha (252 milhões).
•Elenco da 2ª Temporada: Além dos retornos de Lee Jung-jae (Gi-hun), Lee Byung-hun, Wi Ha-jun e Gong Yoo, novos nomes foram acrescentados, como Yim Si-wan, Kang Ha-neul, Park Gyu-young, T.O.P (BIGBANG), Jo Yu-ri (ex-IZ*ONE), entre outros.
•Música e Personagens: O rapper T.O.P interpreta Thanos, um personagem misterioso, enquanto Jo Yu-ri dá vida a Kim Jun-hee, trazendo um toque de representatividade da música coreana para a trama.
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Teorias e Inspirações
Origem Real dos Jogos: Embora Hwang nunca tenha confirmado explicitamente, muitos fazem paralelos entre Round 6 e a história sombria da instituição Brothers’ Home na Coreia do Sul. Durante a década de 1980, o regime autoritário sul-coreano organizou uma campanha para “limpar” as cidades, em preparação para os Jogos Asiáticos de 1986 e as Olimpíadas de Seul de 1988. A polícia recolheu pessoas em situação de rua, dissidentes políticos e até pessoas com deficiência, forçando-as a viver em um centro de assistência social, que mais tarde foi revelado como um campo de concentração. Os internos eram identificados por números e usavam uniformes padronizados, como em Round 6.
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Teorias de Fãs
•Cores dos Cartões: Muitos fãs acreditam que as cores dos cartões oferecidos no jogo de ddakji (azul e vermelho) indicam se a pessoa será um jogador ou um guarda.
•Identidade dos VIPs: Uma teoria popular sugere que os VIPs podem ser ex-vencedores dos jogos, agora ricos, buscando apenas entretenimento.
•Influências Declaradas: Hwang Dong-hyuk revelou que suas principais inspirações foram os quadrinhos Battle Royale e Liar Game, além de sua própria experiência com dívidas.
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Expansão do Universo de Round 6
•3ª Temporada: A Netflix confirmou a produção da terceira temporada, prevista para 2025, que promete concluir a jornada de Gi-hun e aprofundar o mistério dos organizadores dos jogos. A cena pós-créditos da 2ª temporada sugere pistas cruciais para o enredo futuro.
•Versão Americana: Squid Game: America será um remake da série original, ambientado nos Estados Unidos, com a direção de David Fincher (famoso por Clube da Luta e Mindhunter). As filmagens estão previstas para começar em 2025.
•Spin-offs Possíveis: Hwang Dong-hyuk expressou interesse em explorar as origens dos jogos e a trajetória de outros participantes, o que pode resultar em séries derivadas.
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O Impacto Cultural
Com sua crítica ao capitalismo, tensões sociais e uma narrativa visceral, Round 6 se consolidou como uma das produções mais influentes da década. A série abriu portas para o reconhecimento das produções coreanas e gerou debates globais sobre desigualdade social e moralidade.
Polêmicas sobre Representatividade
A 2ª temporada gerou uma polêmica significativa, especialmente em relação à escolha do ator cisgênero Park Sung-hoon para interpretar Hyun-ju, a Jogadora Número 120, uma mulher trans que participa dos jogos para financiar sua cirurgia de redesignação sexual.
•Recepção do Público: Embora o personagem tenha conquistado muitos espectadores com seu arco emocional, alguns questionaram a falta de representatividade ao escolher um ator cis para um papel trans.
•Resposta do Criador: Hwang Dong-hyuk explicou sua escolha, destacando a dificuldade de encontrar atores trans abertamente na Coreia do Sul, onde a comunidade LGBTQIA+ ainda é amplamente marginalizada. “Isso é de partir o coração”, disse o diretor.
•Sobre Hyun-ju: A personagem é apresentada em uma cena onde os jogadores tiram selfies para registro. Ela enfrenta preconceitos, incluindo zombarias de uma competidora idosa sobre sua identidade de gênero. Park Sung-hoon, ator de 39 anos, é conhecido por seu trabalho em Rainha das Lágrimas (2024) e O Dia do Sequestro (2023).
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Essa combinação de fatores, entre críticas sociais e escolhas criativas ousadas, faz de Round 6 uma série não apenas marcante, mas também provocadora, sempre alimentando discussões sobre sua representação e impacto cultural.
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