As ricas ofertas de plataformas de streaming transformaram radicalmente a forma como evoluímos o conceito sobre o consumo de música, moldando uma nova experiência de audição e alterando o conceito de entendemos do que forma um “álbum”. Antes, álbuns eram pensados como obras coesas, narrativas que nos guiavam para uma jornada com início, meio e fim.
Aproveite descontos exclusivos em cursos, mentorias, eventos, festas e muito mais assinando o Clube 40EMAIS agora! Além disso, ganhe descontos em lojas, restaurantes e serviços selecionados. Não perca tempo, junte-se ao nosso clube!
Com a rápida criação de plataformas como Spotify, Apple Music, Tidal e Youtube Music, o consumo para a priorizar aquilo que é instantâneo, deixa tudo mais acessível, e claro, dá luz sobre o que poderá ser descartável – tudo num clicar de botões. Usando do imediatismo, artistas podem distribuir em seus perfis de streaming, suas mais recentes canções, conectando de imediato ao público que passa a curtir e replicar uma única faixa.
|
|
Já quando pensamos sobre a elaboração de um álbum, teremos uma obra de arte completa, rica em detalhes que se conjugam e por sua vez, leva mais tempo até que nós os fãs, tenhamos acesso ao conjunto dessa obra. No entanto, manter a relevância de um álbum no cenário do streaming é um desafio, uma vez que o público se acostumou a consumir faixas isoladas, formando playlists personalizadas que atendem ao momento e ao humor, em vez de ouvir álbuns inteiros.
Essa mudança de paradigma leva artistas a repensarem o formato, muitas vezes optando por lançar singles avulsos ou EPs (aqueles álbuns com até seis faixas), que recebem destaque nas playlists e redes sociais e conquistam rapidamente a atenção do público. Há, claro, quem ainda acredite no potencial artístico do álbum, vendo-o como espaço para narrativas mais longas e expressões mais profundas. Um bom exemplo foi o último trabalho de Nando Reis, chamado Uma Estrela Misteriosa, que liberou 24 faixas inéditas – para fazer um alarde, foi indicado um contador decrescente, onde de tempos em tempos, uma faixa do álbum era liberada até o contador zerar o tempo de lançamento. Algo que nos tempos de LP, CD não seria possível.
Como valorizar a criação de álbuns completos em um ambiente que privilegia a fragmentação?
Valorizar a criação de álbuns completos na era do streaming exige tanto estratégias inovadoras quanto uma postura decidida dos artistas e da indústria em resgatar o apelo do álbum como uma jornada sonora.
Uma das possibilidades é apostar em narrativas e conceitos que envolvam o ouvinte, criando histórias interligadas em cada faixa ou propondo temáticas coesas que façam do álbum um convite ao mergulho profundo, impossível de ser sentido ouvindo apenas uma música isolada.
Ainda, o lançamento de versões exclusivas ou limitadas, com faixas bônus ou interlúdios que ampliam o sentido da obra, também podem incentivar os fãs a escutarem o álbum completo. Tenho notado que alguns álbuns já antigos, quando são relançados no streaming, chegam com faixas que ficaram de fora na época do lançamento em mídia física (por que não caberiam naquele formato).
Outro caminho é explorar recursos multimídia que vão além do áudio, como clipes interativos, vídeos curtos para redes sociais e experiências imersivas com realidade aumentada, que liguem uma faixa à outra, transformando a audição do álbum em uma experiência visual e sensorial.
As plataformas de streaming também têm papel importante nesse incentivo, através da inteligência dos algoritmos, que passam a promover sessões especiais, playlists de álbuns completos e até playlists de “álbuns essenciais”. Isso passa ajudar o público a redescobrir o prazer de ouvir uma obra inteira e, com isso, fortalecer o impacto do álbum na cultura musical atual.
E como as plataformas de streaming podem contribuir para manter viva essa tradição?
As plataformas devem atuar na valorização do álbum como forma de expressão artística. Uma das maneiras mais diretas de contribuir é dar maior visibilidade a lançamentos de álbuns completos, promovendo seções dedicadas exclusivamente a eles, além dos tradicionais destaques de singles.
Curadorias editoriais que incentivem a escuta de álbuns em sua totalidade também podem ajudar a fomentar uma cultura de apreciação do álbum como uma obra única, oferecendo recomendações que considerem tanto o contexto narrativo, quanto o conceito por trás das músicas – entrevistas dos artistas sobre o processo criativo, histórias de inspiração e simbologias que os fãs poderão perceber durante a audição.
Outra estratégia é a criação de experiências interativas no aplicativo, como uma “audição guiada”, onde o ouvinte é conduzido pelas faixas com insights ou curiosidades sobre cada etapa do álbum, convidando-o a uma imersão completa.
Podemos pensar sobre o suporte a lançamentos de “Deluxe Editions”, com trechos de gravações ou demos exclusivas (faixas esquecidas na gaveta), além de sessões de comentários dos próprios artistas sobre cada faixa. Todo esse conteúdo plus pode tornar o álbum mais atraente e reforçar seu valor artístico, mantendo essa tradição viva em uma era onde a fragmentação é a norma cotidiana.
Mas lembrando que na era da mídia física, poucas eram as pessoas que tinham poder aquisitivo para comprar álbuns. Entendo que com o streaming, com um valor menor que um álbum por mês, se tem acesso a quase tuuudo que é lançado dia-a-pós-dia. Uma fartura descomunal que precisa de atenção para ser degustada e digerida por nossos ouvidos. Nós que lutemos para dar conta.
Vida longa ao som bom (em um bom som).
Até a próxima.
MAIS NESSA COLUNA
Leia Também
|