É que o mundo é muito injusto lá fora

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o mundo é muito injusto lá foraEntrou ofegante, bateu a porta e deixou o ombro cair com todo o peso daquele dia ingrato sobre o corpo já de meia idade. Tinha sido mais um dia difícil, mas ali ele estava a salvo. Era como se nada o pudesse atingir. Em casa. Largou a bolsa sobre a mesa de jantar, serviu-se de uma taça de vinho, sentou na poltrona marrom de sempre e acariciou George – o gato, seu companheiro de todos os dias e o único ser em quem ele confiava.

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O mundo não era justo lá fora. O mundo era ainda menos justo para aqueles que não se encaixavam nos padrões que sabe-se lá quem definiu. Ele era um desses que não se encaixavam nos padrões que sabe-se lá quem definiu. 

E apesar de ter uma casa, uma poltrona marrom, uma taça de vinho e George – o gato -, há tempos não sentia que tinha motivos para agradecer. Estava cansado de ter que inventar desculpas e escapar das conversas padrões. Assuntos que sabe-se lá quem definiu como padrões. 

O Campeonato Paulista, não-sei-quantos-cavalos-de-potência, o aumento na mensalidade da escola dos filhos e a bunda da Paola Oliveira na minissérie. Era como se ele não pertencesse àquele mundo que sabe-se lá quem definiu como padrão. Mas ali, na cadeira marrom, com a taça de vinho e George – o gato -, ele estava seguro.

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O dia seguinte seria sexta-feira, menos mal porque ele teria dois dias de descanso daquelas conversas de escritório que, bem, sabe-se lá. Os finais de semana costumavam ser melhores porque ele não precisava fugir dos almoços coletivos, dos cafezinhos no meio da tarde para falar do belo rabo da doutora Salete e dos e-mails internos com piadas que sabe-se lá quem disse que eram engraçadas. 

Mas ainda havia um desafio: uma nova desculpa para escapar do Happy Hour tradicional de sexta-feira. O mundo lá fora era realmente injusto para aqueles que fugiam dos padrões. 

O interfone tocou, era a pizza. Mas ele não havia pedido pizza, não naquela quinta.

– Mas o senhor sempre pede pizza às quintas. Meia mussarela, meia calabresa – alegou o entregador. 

É verdade, ele pensou. Sem perceber, a pizza da quinta, precedida da taça de vinho, para brindar a chegada do final de semana, tinha se tornado padrão. Mas ele não aguentava mais os padrões. 

E aquele padrão, particularmente, ele podia mudar. Mandou o entregador ir embora com a pizza padrão, foi tomar um banho, escolheu o look mais descolado, passou um perfume que nunca havia usado – achava ousado demais, mesmo sem saber o que significava um perfume ser ousado demais, ligou para Daniel e pediu que descesse em vinte minutos. 

– Mas hoje é quinta, nós nunca nos vemos às quintas. E você nunca me pega em casa.

– É verdade, nós nunca nos vemos às quintas, eu sempre o pego na esquina da sua casa e sabe-se lá quem definiu esses padrões.

– Você, afirmou categórico Daniel. 

– É que o mundo é muito injusto lá fora.

 
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Diego Brigido

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Jornalista e bacharel em turismo, com especialização em marketing estratégico e gestão de turismo e hospitalidade, com dezoito anos de experiência na Baixada Santista É editor-chefe da Revista Nove e do Guia Comer & Beber e colunista de Turismo e Gastronomia da Revista Mais Santos. Aquariano e inquieto, se aventura nas crônicas e poemas e está às vésperas dos 40.

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