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Tenho preocupação contínua em não me repetir, pois o objetivo dessa coluna é trazer temas diversos a reflexão ligada a sexualidade, comportamento e relacionamentos e esses temas tem inúmeras possibilidades, pois cada um de nós age e reage de acordo com uma regra única, e pessoal, nesse sentido temos uma diversidade de tipos humanos, uns melhores outros nem tanto edificantes e outros dos quais gostaríamos que o mundo estivesse livre, mas nesse tempo de respeito e diversidade temos que acolher, refletir e transformar. cuida

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Mas o que quero dizer que infelizmente recorrerei a um tema, já discutido em outras facetas, mas é um tema que ou me persegue ou realmente está necessitando de uma reflexão mais profunda e sempre ser atualizado.

Quero novamente falar sobre a situação da mulher na sociedade atual, na família no trabalho e principalmente diante das possibilidades que ela mesma, que nós mulheres vemos para nós e que por diversos motivos ainda não nos apropriamos, não por culpa ou fraqueza, mas diante da impotência histórica imposta pela tradição e cultura dos papéis masculinos e femininos, que não estão tão deformados como antes, mas cuja transformação ainda não foi integrada pela maioria de nós e dos homens de nosso tempo.

Portanto somos igualmente vítimas de conjunções e de misteriosos caminhos da psique humana que ainda se sujeita a situações nem um pouco prazeirosas e aceitáveis.

A motivação para voltar a escrever sobre esse assunto foi ter presenciado e lido sobre situações de agravos físicos e psicológicos contra as mulheres e perceber que ainda é necessário falar-se muito disso, pois como dizia Freud num memorável texto do começo do século, que recordar, repetir, é necessário para se elaborar naturalmente em outro contexto.

Em recente reportagem li que a violência contra as mulheres ainda cresce, apesar de termos a consciência dessa vil possibilidade, cresce a proporções assustadoras.

Segundo dados de uma pesquisa de uma fundação preocupada com o avanço da violência doméstica, a cada 15 segundos uma mulher sofre uma agressão, portanto se você levar um minuto e meio para ler minha coluna, durante o tempo da sua leitura seis mulheres foram achacadas, espancadas ou desrespeitadas.

É bom que se diga que a violência verbal, não tem efeito menor do que um tapa ou um empurrão, pois compromete tanto quanto a auto estima da mulher que faz que ela acabe acreditando que merece aquilo tudo que lhe acontece.

O mais estarrecedor, pelo menos para mim foi saber que há dez, quinze anos atrás, essas queixas eram de pessoas casadas e que hoje o numero de jovens que apanham dos namorados está em franca ascensão.

As garotas tendem a repetir modelos maternos buscando parceiros agressivos, dominadores, apesar de tanta consciência de direitos e valores ,esses aspectos da igualdade ainda não estão totalmente introjetados na mulher contemporânea.

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Tenho esperança que as adolescentes de hoje sejam a última geração que ainda tem um residual do papel feminino subjugado.

Outro dia, conversando com uma criança de dez anos sobre a instituição do voto feminino, explicando que até o governo de Getúlio Vargas, as mulheres não tinham direito a voto, reparei seus olhinhos negros curiosos e sem entender direito por que as mulheres não votavam.

Para ela era incompreensível a diferença entre homens e mulheres, natural, ela é de uma geração em que as jogadoras de futebol, esporte até a pouco iminentemente masculino, tem sucesso internacional e com passes valendo fortunas, ela é de uma época em que mulheres tem cargos de mando e chefia, em que mulheres dirigem caminhões, ônibus e aviões.

Como eu disse os olhinhos da Luana brilharam de incompreensão e curiosidade e confesso: os meus brilharam de emoção e esperança.

Quiçá seja a última geração de mulheres que carrega o peso cultural da inferioridade sem perder a graça e a feminilidade própria da mulher.

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Marcia Atik

Márcia Atik, é psicóloga clínica, conferencista, com especialização em Sexualidade, Terapia de Família e Casal.

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