O mundo inteiro correu contra o tempo para achar uma forma (ou várias) de controlar a epidemia causada pelo SARS-CoV-2. Uso de diferentes tipos de máscaras e discussão sobre quais são as mais eficazes; álcool em gel e muita água e sabão; medidas mais seguras de distanciamento entre as pessoas; discussão sobre medicamentos profiláticos… e, claro, a vacina.
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A principal função das vacinas era garantir uma redução significativa no número de casos graves, hospitalizações e mortes causadas pelo novo coronavírus. E elas vêm cumprindo o seu papel. Com a certificação de que são seguras e eficazes, os esforços científicos se concentram em responder outra questão: por quanto tempo dura a proteção oferecida pelas vacinas.
Ainda que incertas, algumas respostas já começam a surgir. Estudos no Reino Unido com os imunizantes da Pfizer e da AstraZeneca indicaram que a efetividade, após a segunda dose, dessas vacinas diminuiu em relação à variante Delta, se comparada à variante Alfa; sendo a redução da Pfizer, percentualmente, maior do que a da AstraZeneca. No entanto, elas continuam conferindo uma boa resposta imunológica.
Outros estudos, com as diferentes vacinas utilizadas mundialmente, têm apontado uma redução no nível de anticorpos neutralizantes após 6-7 meses, principalmente entre os idosos, semelhante ao que acontece com outras vacinas, mas que ainda confere proteção. Uma redução mais significativa foi reportada por um estudo chinês nos grupos de idosos vacinados pela CoronaVac.
É importante ressaltar que o nível de anticorpos vacinais pode diminuir com o tempo (é natural e esperado), mas gerar uma memória imunológica duradoura, através de células B e T, que ajudam a impedir o agravamento da doença quando ativadas.
Diante de ainda tantas incertezas sobre o assunto e o aumento de casos da doença pela variante Delta em vários países, mesmo naqueles com altas taxas de vacinação, surgiu a discussão se uma terceira dose de reforço da vacina aplicada aos idosos e em imunodeprimidos seria uma boa alternativa para aumentar a proteção gerada pelas vacinas nestes grupos específicos.
A medida já está sendo adotada em alguns países e, no último dia 25, o Ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga, anunciou a inclusão ao Plano Nacional de Imunização (PNI) da terceira dose da vacina anticovid em idosos a partir de 70 anos e pessoas imunossuprimidas. A previsão é iniciar essa etapa da vacinação no dia 15 de setembro, embora o estado de São Paulo tenha anunciado começar já no próximo dia 6 e para idosos a partir de 60 anos.
A ideia é aumentar a proteção desses grupos e conter o avanço da variante Delta no Brasil.
Essa dose de reforço será inicialmente aplicada aos idosos com mais de 6 meses da vacinação completa e aos imunossuprimidos após 28 dias, independente do imunizante que tenha sido tomado.
Esta terceira dose será, preferencialmente, com a vacina da Pfizer e, como alternativa, a da AstraZeneca ou da Janssen. Esta decisão foi tomada após análises e discussões entre o Ministério da Saúde (MS) e especialistas do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (CETAI).
Alguns dos fatores analisados que pautaram essa decisão são o número de vacinas recebidas pelo país de cada fabricante; o fato de a Pfizer ser o imunizante com mais estudos de segurança e eficácia com o uso cruzado com o de outros fabricantes; e as evidências científicas que indicam uma melhor resposta da Pfizer, tanto celular quanto humoral (produção de anticorpos), nestes grupos.
Apesar de fundamental no país, sobretudo no início do processo de vacinação, a Coronavac não foi incluída como opção para a terceira dose, uma vez que pesquisas têm mostrado que ela gera uma resposta menor em idosos e imunossuprimidos, devido a fatores específicos do sistema imune destes grupos. Mas existe a expectativa pela conclusão de um estudo, conduzido pelo MS, sobre a duração da proteção conferida por esta vacina à população brasileira, assim como sobre a intercambialidade com outros imunizantes.
E falando sobre a intercambialidade entre as vacinas, um estudo realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, indicou que um esquema misto entre as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca foi capaz de gerar uma forte resposta imunológica contra o SARS-CoV-2, com melhores resultados quando a Pfizer é dada como segunda dose.
Na expectativa de que a terceira dose ofereça ainda mais proteção contra a Covid-19, alguns países já iniciaram as suas campanhas.
Israel foi o primeiro em adotar a dose de reforço a toda a sua população; iniciou em julho para os 60+ e, atualmente, está vacinando a faixa etária dos 40.
A Rússia, Bélgica, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Espanha e Reino Unido também já autorizaram a terceira dose das vacinas a grupos específicos com o esquema vacinal completo.
Dos países que usaram a CoronaVac nos seus programas de vacinação, a Turquia, Chile e Uruguai também autorizaram a aplicação da dose de reforço com a Pfizer ou AstraZeneca. No Uruguai, inclusive, não será aplicada apenas 1 dose de reforço com a Pfizer, mas o esquema completo de 2 doses.
Muitos estudos já estão sendo realizados e apontam que a terceira dose tem sido segura e eficaz, sobretudo na geração de anticorpos anticovid. Dados preliminares sugerem que uma terceira dose da vacina da Pfizer pode aumentar em até 6 vezes o número de anticorpos entre idosos acima de 60 anos, 10 dias após a aplicação, comparado com os que receberam apenas as 2 doses.
A dose de reforço, no entanto, ainda não é consenso entre a classe científica mundial. Ao menos, não neste momento.
Os principais argumentos são a falta de estudos suficientes para determinar se a terceira dose realmente confere uma maior proteção em relação ao esquema vacinal atual de 2 doses, e por quanto tempo.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que é cedo para discutir a possibilidade de uma terceira dose enquanto a maior parte da população mundial ainda não teve acesso nem à primeira. De acordo com a instituição, os esforços deveriam estar focados no avanço da imunização mundial, evitando que o coronavírus mantenha uma alta taxa de infecção nestes locais, o que favorece o surgimento de variantes com potencial para escapar da proteção imunológica dada pelas vacinas, deixando os países vacinados susceptíveis, e todo o mundo, em risco novamente.
É possível que o SARS-CoV-2 exija uma vacinação anual, assim como o vírus da gripe, devido ao surgimento de novas variantes pelas constantes mutações que o vírus sofre e, também, pela possibilidade da queda de proteção das vacinas ao longo dos meses.
Independentemente de ser ou não o melhor momento para a introdução de uma terceira dose de reforço, é indiscutível a importância do rastreamento da evolução das respostas vacinais de cada imunizante, nos diferentes países, assim como a realização de muitos estudos científicos para esclarecer todas estas questões ainda em aberto.
A pandemia não acabou e o SARS-CoV-2 ainda nos exige muitos esforços e respostas.
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