Dois dias e duas perdas imensuráveis de ícones brasileiros: os atores Paulo José e Tarcísio Meira, aos 84 e 85 anos, respectivamente. O primeiro, em decorrência de pneumonia e o segundo, por complicações da covid-19.
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Não sou contemporânea do início da carreira destes dois atores mais do que consagrados, mas muitos personagens que eles interpretaram estão no meu imaginário, como as cenas de um próximo capítulo. Em reverência ao que foram – e serão para sempre -, revisto aqui as minhas memórias dos trabalhos que considero mais emblemáticos.
A voz de Paulo José é daquelas que carregam um tanto de suspense, ironia, raiva, surpresa, alegria e todo tipo de sentimento que dá vida a um personagem ou descreve uma situação. Sua presença em cena misturava força e doçura, sem perder a imponência de quem dominava palcos, cenários e estúdios como se fosse o quintal de casa.
Adorava vê-lo como o Profeta Gentileza, numa participação especial na novela Caminho das Índias, de 2009. Gentileza nascera José Datrino, mas ficou conhecido como o profeta que pregava o amor ao próximo, nas famosas pinturas em muros e viadutos no Rio de Janeiro. Faleceu em 1996, mas teve sua missão eternizada na pele de Paulo José. Afinal, Gentileza gera gentileza!
No filme Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, Paulo José dá vida a um major visionário e nacionalista, que briga no Congresso para que o tupi-guarani seja o idioma nacional. O longa, de 1998, é baseado na obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Eu sei que ele interpretou muitos outros personagens marcantes, mas, pra mim, o Otaviano Marghera, de Saneamento Básico, o filme, é o meu preferido. Ele vive batendo boca com o genro, Joaquim, encenado por Wagner Moura, e não bota muita fé, inicialmente, no projeto da filha Marina (Fernanda Torres), de fazer um filme para obter verba pública e custear uma obra na comunidade. O sotaque italiano é o tempero especial desse personagem!
Por ocasião de sua morte, o curta Ilha das Flores voltou a ser muito citado e eu, curiosa que sou, fui conferir mais esse trabalho de Paulo José, que faz uma narração de cadência única e acidez necessária ao tema. De 1989, o curta mostra como a economia gera relações sociais desiguais, contando a trajetória de um tomate jogado fora que, despejado no lixão de Porto Alegre, vira alimento para crianças e mulheres. Mais atual, impossível. Vale a pena ver e rever alguns conceitos próprios também.
Minhas lembranças de Tarcísio Meira são mais vívidas, pois ele foi quase que absoluto no tempo áureo das novelas. Era criança, mas me divertia com a Guerra dos Sexos, em que ele interpretava Felipe e, ao lado de Otávio (Paulo Autran), fazia todo tipo de trapaça para vencer a tal batalha de homens x mulheres.
Também estão marcados os personagens Capitão Rodrigo Cambará, do clássico O Tempo e o Vento, baseado na obra de Érico Veríssimo; Hermógenes, o jagunço que foi o vilão de Grande Sertão: veredas, também de 1985, outra superprodução da Globo; Renato Villar, o empresário sem escrúpulos que descobre um tumor no cérebro, em Roda de Fogo, de 1986; e Euclides da Cunha, o escritor morto pelo amante da mulher, no episódio conhecido como A Tragédia de Piedade, transmitido em 1990.
Ao lado da mulher e o grande amor da sua vida, Glória Menezes, ele também fez outros papéis que conquistaram o público, pois a sintonia do casal era especial na frente ou por trás das câmeras. Um amor lindo e inspirador, coisa de cinema mesmo.
E nesta sexta-feira 13, o dia do azar para muitos supersticiosos, eu prefiro enaltecer a sorte que tive – tivemos, se você concordar comigo – por ver tantos Paulos e Tarcísios em cena, vestindo personagens que já entraram para a história das artes e que os manterão vivos para sempre.
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Realmente essa semana foi de perdas muito significativas no meio artístico, Nos sentiremos órfãos de dois dos maiores atores da televisão brasileira. Mas vamos guardar para sempre em nossa memória todos os personagens desses grandes atores brasileiros.
Gênios da dramaturgia que nos deixaram. Belíssima e justa homenagem Fabi