Eu não gostava dos rojões. Dos estalos. Da explosão! Gostava do cheiro da festa junina. Cheiro de pólvora. Fumaça. O ardido nas narinas… Até hoje, isso me lembra um tempo feliz. Festa simples. Gente simples. Do interior caipirês do nosso país.
Aproveite descontos exclusivos em cursos, mentorias, eventos, festas e muito mais assinando o Clube 40EMAIS agora! Além disso, ganhe descontos em lojas, restaurantes e serviços selecionados. Não perca tempo, junte-se ao nosso clube!
E todo ano era igual. Já em maio, as professorinhas, dedicadas, começavam a combinar. Não havia muito o que mudar. Compravam as sedas. Faziam as bandeirinhas. Colavam no barbante. Vermelhas. Amarelas. Azulzinhas. Os meninos subiam nas escadas para enfeitar. O pátio do colégio ficava alegre. Com bandeiras, balões e fogueira. Sem fogo. Só toras de madeira. Tudo no centro da quadra de esportes, dando ar de São João. Era lá a quadrilha. Iam todas as famílias…
Os ensaios começavam um mês e meio antes. Cansativos, mas divertidos. Dava pra matar umas boas aulinhas. Com o consentimento raro das professorinhas, que também dançavam festivas. Sofrido mesmo era ouvir durante horas e horas a mesma trilha sonora. Talvez a única música junina do mundo inteiro, tiro certeiro: Pararararararará… E lá ia a gente montar a quadrilha. Olha a chuva. Olha o túnel. Olha a cobra…
E se de um lado a festa dava trabalho, de outro era mágico e engraçado. Ter um dente pintado, estragado, bem na frente da boca era o sorriso desejado. Calças de jacu nos garotos. Nas meninas, vestidos de chita com fitas e cores esquisitas. Vixe, como era “bão”! Remendos na roupa, então…
Lembro uma vez, eu já tinha uns dez anos… Fui escolhida, pela terceira vez, para ser a noivinha. Talvez pelo fato de ser pequenina. Cabelos grandes. Sei lá… O fato é que eu e o meu parceiro Paulo José Barreiro (não sei porque as crianças lembram o nome inteiro dos amigos que há mais de quarenta anos conheceram…) fomos escolhidos, mais uma vez, para sermos o casal.
Brava, já em casa, expliquei para minha mãe quase chorando: – Mais uma vez, eu de noivinha! – Mas a noiva é a principal. Você não gosta dessa honradez? – Mãe, será que você não entende… Eu gosto de remendo. Remendo xadrez! Noiva não usa remendo xadrez…
E aquele cheiro de pólvora, voltou, subitamente, às minhas narinas…
MAIS NESSA COLUNA
Leia Também
|
Delícia de texto. E como era bom! Adoro festa junina, dancei muito na escola todos os anos e me envolvia em todos os preparativos, ajudava em tudo que podia e até mais. Tempo bom e de lembranças boas!!!