As árvores não ficavam por perto. Tínhamos que cruzar ruas difíceis de paralelepípedo e asfalto malfeito. Cruzando um terreno alto para chegar na terra batida, seguindo por ruas tortas e meio escondidas. Era lá que as amoreiras ficavam, carregadas de frutas maduras.
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Algumas delas, dentro das chácaras, debruçavam seus galhos sobre os muros, provocando ainda mais a nossa gula. Era temor e aventura subir nos troncos e nos ombros um do outro, para encher as mãos, os bonés e os saquinhos de papel com as amoras escuras… Depois, tingíamos a boca com o vermelho da fruta, borrando a língua, as gengivas e os lábios com a impressionista pintura!
Minha mãe não deixava que eu fosse com a turma. O primo mais velho já tinha quinze anos. Mas eu insistia… Quem sabe um dia, ela dizia! Esse dia eu acabei escolhendo, escapando sem consentimento, numa manhã ensolarada e fria…
Levantei junto com eles, disposta à travessura. Lembro do pijama de flanela, que deixei por dentro da calça azul, era clarinho e o tênis branco, de lacinho.
Saímos de fininho antes que todos acordassem e seguimos em disparada pela estrada. As árvores abarrotadas foram sendo rapidamente aparadas, enquanto nossas mãos e bocas cada vez mais arroxeadas. Às dez da manhã, decidimos voltar. Parei na última esquina e na torneira da vizinha lavei as mãos, a boca e todas as manchinhas para ninguém descobrir. Eu iria contar mais tarde… Sem muito alarde.
Mas ao chegar em casa, o olhar de mãe, sempre tão doce, rapidamente azedou. Quer dizer que a senhora foi colher amoras? A mancha escura no bolso da calça vermelhamente denunciava…
Retirei as poucas amoras esquecidas e esmigalhadas no bolso da frente e disfarcei com ar contente… Estragou a surpresa, justo agora! Mãe… eu fui buscar pra senhora!
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