Doce Doce de Batata Doce 


doce

Eu não gostava tanto assim de doces. Gostava mesmo era daquelas formas. 

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O coração abóbora. Amarelo. Ou roxo. De batata doce. Bonito de ver na vitrina da padaria… Ao lado, pedaços de geleia. Metade vermelha, metade amarela. E os suspiros duros. Brancos ou rosas, quase sem sabor. Puro açúcar, anilina e cor. 

E tinha arrozinho no saquinho. Balas coloridas, de homenzinhos. Chupeta de mel com limão. Tudo tão atraente. Cores. Formas. Ruídos na hora de abrir… O sabor, pouco importava.  Muito menos as calorias, a quantidade de gordura trans e os riscos reais. Nos anos oitenta, não havia biscoitos de arroz, nem barrinhas de cereais… 

Eram lindos doces vagabundos! Cheios de magia e formatos. Baratos de fato. Vendidos nas vendas e bares de qualquer bairro. Eu procurava sempre o doce perfeito. A forma e o gosto divino que me fizessem flutuar feito o cachorro do desenho, saboreando um biscoito canino! 

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E tinha uma barrinha de chocolate com amendoim dentro de um pote de plástico, perto do caixa, que me levava à loucura… Não tinha papel de embalagem. Eu pedia sempre duas barrinhas. Pra viagem! A pé, é claro, devorando pelo caminho. Bem devagarzinho. Busco até hoje aquele sabor. Mistura de manteiga, cacau e amor… 

Outro dia, em passeio recente, entrei numa venda, daquelas de antigamente, à procura de um doce barato. Sem culpa. Sem conselho médico. Pura contravenção! Nada que uma rosuvastatina não resolvesse depois…  

Foi pura decepção. Tinha macadâmia, mousse de limão e palha italiana. Muito sofisticado pro meu desejo chinfrim. Perguntei sobre os corações de batata doce. As Marias-moles coloridas. O guarda chuva de chocolate no palito de plástico e por fim, das geléias… O vendedor não fazia ideia. 

E antes que ele procurasse no google, parti pra outra mercearia. Seguindo em frente, reticente… Com a saudade de quem sente falta de um tempo, mais do que um doce barato qualquer. Porque tenho esse desvio e devo confessar… Já tive vontade de comer um ovo colorido, desses que ficam ao lado da salsicha com molho na vitrina. Em um bar qualquer de esquina!  

Fotos colunistas Inês Bari - 40EMAIS

Ines Bari

Sou Inês Bari, formada na Faculdade de Comunicação de Santos. Escritora, radialista, compositora, publicitária, roteirista e sonhadora na maior parte do tempo.

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